Por um lado se discutem os mecanismos de adaptação e mitigação, e por outro se negociam acordos econômicos e comerciais. O colossal desafio que significa reverter o aquecimento global em nosso planeta implica alcançar dois objetivos quase impossíveis:
1) Mudar significativamente nossa atual forma de vida.
2) Impor o interesse geral (da humanidade) sobre o particular (dos governos, corporações, organizações, etc.)
Não se trata de uma discussão filosófica e ética mas da busca de rápidas respostas a uma ameaça planetária sem precedentes para a sociedade. Quem diz isso? Entre outros, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, ou seja, o organismo internacional mais qualificado, idôneo e confiável que existe na matéria. Integrado por mais de 2 mil cientistas provenientes de cerca de 100 países, seus últimos informes são contundentes.
Se não se conseguir reverter a elevação da temperatura média da atmosfera durantes as próximas décadas, várias das mudanças no clima que estão acontecendo resultarão catastróficas para milhões de pessoas. O resultado final será que a Terra perderá a “habitabilidade” para os seres humanos e outras espécies.
O primeiro esforço importante para mitigar as mudanças climáticas foi a aprovação do Protocolo de Kioto (1997), que obriga os países industrializados a alcançar uma redução de 5,2% de suas emissões de gases do efeito estufa, entre 2008 e 2012, com relação às emissões de 1990.
Reduzir emissões em grande escala significa introduzir mudanças profundas no uso da energia (hidrocarbonetos), na inovação tecnológica, nos sistemas de produção, na relação dos estados e, sobretudo, em assumir um grande compromisso com o presente e futuro da humanidade.
Recém em fevereiro de 2005 se conseguiu a entrada em vigor do protocolo, a partir do apoio da Rússia, apesar do IPCC há tempo advertir que as metas fixadas em Kioto são totalmente insuficientes. Começou auspiciosamente a XIII Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Bali. A Austrália anunciou que firmará o Protocolo de Kioto. Com esta decisão, os Estados Unidos são agora a única nação industrializada que não apóia o protocolo.
Trata-se de uma situação grave pois a primeira potência do mundo é responsável por nada menos que 25% das emissões mundiais de gases do efeito estufa. Bush se opõe a Kioto argumentando que seu cumprimento ameaça o crescimento econômico norteamericano. Além disso, afirma que exclui injustamente as nações pobres do compromisso de não emitir esses gases.
Surpreende que diante de uma emergência mundial da magnitude que estamos vivendo – e da qual já sofrem os Estados Unidos – o governo norte-americano não faça sua parte de responsabilidade, e siga utilizando argumentos econômicos para não fazer nada a respeito. Pelo visto, teremos que esperar mudanças políticas como aconteceu na Austrália.
Os governos parecem não se dar conta do que está acontecendo. Seguimos discutindo sobre como melhorar os mau cumprimento do Protocolo de Kioto que houve até agora, ao mesmo tempo em que o IPCC adverte a comunidade internacional de que antes de 2050 terá que reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 50% - tomando como referência os níveis de 1990.
Entretanto, a conferência de Bali pretende estabelecer uma data limite para alcançar um compromisso final do que fazer após Kioto (2012).
(Por Hernán Sohuert Gelós*, El País, tradução de Ulisses A. Nenê /
EcoAgência, 09/12/2007)
*O autor é jornalista no Uruguai e escreve regularmente sobre meio ambiente para o jornal El País, de Montevidéo, onde o artigo foi publicado. Reprodução autorizada, citando-se a fonte.