Com recursos da Petrobras, a Unicamp inaugurou nesta quinta-feira (13/12) um moderno laboratório de geoquímica apto a desenvolver novas linhas de pesquisa na área de exploração de petróleo. A nova unidade, na qual foram investidos R$ 3,5 milhões, atuará em parceria com o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes) no estudo de reservas de óleo biodegradável. O laboratório é o primeiro do gênero a ser instalado fora da Petrobras no contexto do programa de redes temáticas, criado pela companhia no ano passado com o objetivo de incrementar sua atuação nos segmentos de petróleo, gás e energia.
“As pesquisas nessa área são de importância capital para o setor, já que as reservas de óleo biodegradável são quatro vezes maiores que a de óleo convencional”, disse o professor Francisco Reis, coordenador do novo laboratório. Instalada no Instituto de Química, a unidade desenvolverá estudos de forma integrada com o Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA), envolvendo ao todo 18 pesquisadores nas áreas de geoquímica orgânica, biocatálise e metagenômica.
A biodegradação consiste na destruição total ou parcial da fração economicamente importante do petróleo pelos microorganismos. Melhorar o conhecimento sobre os fatores que controlam a biodegradação e como ela ocorre sob diferentes condições geológicas, constitui atualmente um dos principais desafios da indústria petrolífera. “Não se faz mais pesquisa em petróleo sem a geoquímica orgânica”, afirma Reis.
Segundo o coordenador do laboratório, a biodegradação reduz os volumes recuperáveis de petróleo, prejudicando a produção, além de afetar o valor de mercado do óleo produzido. As pesquisas nesse campo são decisivas para evitar áreas com maiores chances de biodegradação, bem como obter parâmetros para aprimorar modelos preditivos. “Na prospecção, a atividade é extremamente importante para caracterizar a matéria orgânica, verificar se a área tem potencial de gerar petróleo e quais as suas características”, explica Reis.
Entre os principais objetivos do grupo, destacam-se a identificação e análise de biomarcadores ácidos e neutros em amostras de óleo; identificação de bactérias e arqueas em amostras de óleo e de água; simulação de processos e mecanismos de biodegradação; e sistematização das informações diagnósticas de biodegradação para estudos futuros. Para isso, o laboratório contará com equipamentos de última geração, como o seqüenciador automatizado de DNA, utilizado para seqüenciamento de DNA de microrganismos presentes em amostras, e o LQT Orbitrap, capaz de analisar moléculas orgânicas pequenas e grandes.
“Por enquanto a maior parte dos investimentos está sendo destinada à consolidação da infra-estrutura da rede temática, mas a intenção é destinar mais recursos para projetos de pesquisa e desenvolvimento”, disse o gerente de Geoquímica da Petrobras e coordenador da Rede Temática de Geoquímica, Luiz Antônio Trindade. Em sua opinião, o Brasil tem condições de se tornar referência mundial em geoquímica relacionada à exploração de petróleo.
O reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, destacou a importância da parceria entre a Universidade e a Petrobras. “Nestes vinte anos de trabalhos conjuntos, as duas instituições estabeleceram uma relação intensa em várias áreas do conhecimento”, disse. “Além de favorecer a formação de recursos humanos de excelência, a parceria permitiu a transformação de conhecimento em riqueza, com geração de emprego e renda”, completou.
A Unicamp desenvolve pesquisas na área de geoquímica desde 1985, o que permitiu uma significativa produção acadêmica. Só a parceria com a Petrobras já resultou em 14 artigos publicados em revistas indexadas, 47 trabalhos apresentados em congressos, 9 teses de mestrado, 6 de doutorado e outras 11 em andamento.
Para Reis, a inauguração do novo laboratório deverá incrementar ainda mais as pesquisas. “Melhoramos muito a infra-estrutura e a expectativa é muito positiva, já que o programa de redes temáticas prevê o financiamento contínuo para pesquisas conjuntas”.
As redes temáticas da Petrobrás foram anunciadas em maio do ano passado. A Unicamp atua em 19 das 38 linhas estabelecidas pela empresa. Outras 75 instituições de ensino e pesquisa também participam do programa. Por um dispositivo legal, serão investidos 0,5% dos recursos oriundos dos poços de petróleo em pesquisa fora da companhia. No total, serão destinados cerca de R$ 1,5 bilhão até 2009.
Esta não é a primeira parceria estratégica entre a Unicamp e a Petrobras. Com o apoio da companhia, foram criados, em 1987, o Centro de Estudos em Petróleo (Cepetro), o Departamento de Engenharia de Petróleo e o curso de Mestrado em Engenharia de Petróleo, todos na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM). Além de participar de projetos de P&D, o Cepetro contribui de forma decisiva na formação de mão-de-obra qualificada para o mercado do petróleo.
Em 1990, criou-se o Programa de Mestrado em Geoengenharia de Reservatórios no Instituto de Geociências. Em 1993, implantou-se um programa de Doutorado em Engenharia de Petróleo. Atualmente, o Cepetro apóia cursos e projetos na área de ciências e engenharia de petróleo, contemplando as áreas de exploração petrolífera e geoengenharia de reservatórios petrolíferos, atendendo às atividades de geologia, engenharia de reservatórios, perfuração e contemplação de poços, produção petrolífera e gestão de recursos petrolíferos e processamento sísmico.
Dentre os cursos oferecidos pela Unicamp, com o apoio do Cepetro, estão o Mestrado e Doutorado em Ciências e Engenharia de Petróleo, os Cursos de Extensão de Engenharia do Gás Natural e Regulação no Setor de Petróleo, disciplinas de ênfase em Engenharia de Petróleo na Graduação da Faculdade de Engenharia Mecânica e Graduação em Geologia no Instituto de Geociências.
(Por Clayton Levy, Jornal da Unicamp, 13/12/2007)