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cop/unfccc emissões de gases-estufa
2007-12-13
A família acaba de terminar uma caríssima refeição de sete pratos em um restaurante. Os sobrinhos pobres chegaram tarde e têm de se conformar com as migalhas que sobraram. Quando chega a conta, os tios ricos (Canadá, Estados Unidos e Japão) insistem que os sobrinhos, embora estejam com muita fome, devem pagar sua parte como se tivessem desfrutado do banquete integralmente. O tio Canadá sugere que ele próprio deveria pagar menos, porque tem muito apetite. É algo que não pode evitar.

Para muitos observadores, esta cena fictícia descreve o que acontece na conferência das partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que se desenvolve na ilha de Bali, na Indonésia, apesar do urgente apelo feito por mais de 200 especialistas em mudança climática.”São necessárias reduções drásticas nas emissões de gases causadores do efeito estufa. Não temos tempo a perder”, disse Richard Somerville, da Instituição Oceanográfica Scripps, da Universidade da Califórnia.

Os cientistas cobram dos governos um novo acordo internacional que substitua o Protocolo de Kyoto (aprovado em 1997, em vigor desde 2005 e que caducará em 2012) e permita conter o aumento das emissões dos gases que provocam o efeito estufa em 10 ou 15 anos. Se deveria alcançar uma redução de, pelo menos, 50% até 2050. Esse é o objetivo mínimo, alertam os especialistas, para se ter 50% de possibilidades de evitar que a temperatura do planeta aumenta mais que dois graus, o que permitiria prevenir as conseqüências mais graves do aquecimento global. Porém, alguns cientistas acreditam que a redução das emissões deveria chegar a 80%, disse Somerville.

Apesar da urgência e das advertências, o Canadá exerce toda uma influencia em Bali para desbaratar estas iniciativas, disse Hans Verolme, diretor do programa sobre mudança climática do Fundo Mundial para a Natureza (WWF). “O que estão fazendo nos garantirá um aumento da temperatura em quatro graus centígrados. Não entendo a política dos canadenses”, acrescentou. a posição do Canadá e do Japão é que todos os países emissores de grande quantidade de dióxido de carbono, agora e no futuro, devem efetuar idênticas reduções. Isto significa que China e Índia, que começaram a se industrializar recentemente, teriam que adotar as mesmas metas que o resto das nações ricas.

Essa reclamação ignora que o Norte rico se beneficiou com mais de um século de industrialização, período no qual contaminou sem controle a atmosfera. O Canadá pensa que as nações industriais deveriam obter carta branca por suas emissões passadas. Desde que a Revolução Indústrial começou em 1750 na Inglaterra, 450 bilhões de toneladas de dióxido de carbono foram lançadas na atmosfera, em sua maior parte pelos países mais ricos. Atualmente, as emissões estão em torno dos sete bilhões de toneladas.

“Ninguém está falando em metas rígidas para os países em desenvolvimento, à exceção do Canadá”, disse à IPS Dale Marshall, da Fundação David Sukyki, uma organização ambientalista desse país da América do norte. “Estão tentando bloquear as negociações em Bali”, acrescentou. Um documento reservado do governo canadense, conhecido por organizações não-governamentais no último dia 7, revela claramente a estratégia de exigir que os países pobres adotem as mesmas reduções obrigatórias que as nações ricas. Os Estados Unidos têm uma posição semelhante e o Canadá faz o seu papel para evitar que o governo de George W. Bush fique completamente isolado neste ponto, disse Marshall.

O documento também deixa claro que o Canadá pretende que outros países reconheçam suas “circunstancias nacionais” e lhe permitam adotar metas de redução menos rígidas. Essas circunstâncias dizem respeito ao fato de esse país agora ser um grande exportador de gás e petróleo. A posição canadense também viola o princípio de “responsabilidade comum mas diferenciada”, acrescentou Marshall, que reconhece os diferentes graus de desenvolvimento econômico, a responsabilidade histórica e o atual nível de emissões por habitante em vários países. Este princípio foi adotado por consenso por todas as partes da Convenção, incluindo Canadá e Estados Unidos.

O secretário-geral da Convenção Marco, Yvo de Boer, explicou o que este principio significa para alcançar uma meta de redução de emissões da ordem de 50% até 2050. “As emissões dos países em desenvolvimento estarão crescendo dramaticamente e teremos que ir para um cenário onde as nações ricas deverão efetuar reduções extras, deixando espaço para o crescimento econômico dos mais pobres”, afirmou. Apesar das declarações do ministro do Meio Ambiente do Canadá, segundo as quais um aumento de dois graus na temperatura do planeta é “inaceitável”, as ações de seu país em Bali revelam que seu governo minimiza a gravidade da mudança climática, disse Marshall.

As decisões na conferência das partes da Convenção são adotadas por consenso, por isso três ou quatro países podem sabotar todo o esforço. “Dá vontade de parar e gritar que estamos negociando o futuro do planeta em Bali, não brincando de jogos políticos”, enfatizou Marshall. A alternativa é discutir sobre a conta da custosa ceia de sete pratos, enquanto o restaurante pega fogo.

(Por Análise de Stephen Leahy, Envolverde, 12/12/2007)


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