O relatório da Comissão Mista Especial de Mudanças Climáticas do
Congresso Nacional defende alterações na lei de licenciamento ambiental
para obrigar a adoção de critérios relacionados ao aquecimento global
em empreendimentos com operação superior a 25 anos.
A Folha teve acesso ao documento que deverá ser apresentado hoje pelo
senador Renato Casagrande (PSB-ES) à comissão. A proposta de mudança na
lei de licenciamento é um dos oito projetos de lei presentes no
relatório. Se aprovada, a iniciativa entrará em tramitação na Casa.
"Existem alguns processos de licenciamento que já adotam esses
critérios, mas é importante que isso esteja previsto na lei", diz
Casagrande.
Integrante da bancada governista, o senador afirmou ainda que existem
várias propostas que não têm consenso. Segundo ele, há pressões do
setor empresarial com relação ao tema das mudanças climáticas. "O
Brasil ainda não tem um arcabouço legal. E existem muitos empecilhos",
disse. "O setor produtivo é contra o estabelecimento de metas de
redução de emissões, por exemplo."
Com 221 páginas, o relatório é o primeiro documento do Congresso
brasileiro relacionado às mudanças climáticas. Integrada por 12
senadores e 12 deputados, a comissão foi instalada em março, logo após
o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática) um de seus
relatórios de 2007.
Ambiente interno
Os resultados, na prática, ainda não aconteceram. "Ficamos prejudicados
este ano. A idéia era iniciar a apreciação dessas matérias em junho, na
Semana Nacional do Meio Ambiente. O problema é que o Senado não
discutiu outro assunto a não ser o seu ambiente interno", disse, em
referência à crise envolvendo o senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
O relatório de Casagrande contém críticas ao combate ao desmatamento
feito pelo governo federal. "A estratégia pode ser mais intensa, com
uma integração maior entre Estados e municípios. O trabalho de
monitoramento ainda está se aperfeiçoando", disse. "O link das imagens
de satélite com o local de desmate ainda tem sido lento. Não há ação
tão rápida. (...) Falta um trabalho de capacitação dos profissionais
dos Estados e municípios."
Para o senador, o Brasil tem de assumir compromisso internacional com a
redução do desmatamento. Ele critica o que chama de "alinhamento" do
Brasil com Índia e China na questão climática. "Isso é ruim. Porque a
China e a Índia não têm nada a apresentar e nós já temos muito. Esses
países estão começando a fazer alguma coisa agora", diz Casagrande.
(Adriano Ceolin,
Folha de São Paulo, 13/12/2007)