Presidente rejeita interromper transposição por causa de protesto de religiosoD. Cappio está em jejum contra mudança nas águas do rio São Francisco; Lula diz à CNBB que ato é problema exclusivo da Igreja Católica
Ao receber ontem (12/12) no Palácio do Planalto o comando da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse aos bispos que não irá interromper as obras de transposição das águas do rio São Francisco e que a greve de fome de d. Luiz Cappio é um problema exclusivo da Igreja Católica.
Lula afirmou que um eventual recuo do governo neste momento serviria de exemplo para que outras pessoas tomassem atitudes extremas à espera de atendimento. A CNBB admitiu em entrevista estar de mãos atadas e disse que torce para que amigos e familiares do bispo de Barra (BA) o convençam a interromper o protesto.
Na audiência, o recado de Lula à CNBB foi dado ao citar o jejum de seis dias que fez em 1980, quando ficou 31 dias preso pelo regime militar. No episódio, disse Lula segundo relatos de presentes ao encontro, d. Cláudio Hummes e outros bispos tiveram que convencê-lo a parar a greve de fome. No encontro de ontem, ainda segundo participantes, Lula disse que greve de fome é "coisa de desespero", mas deixou claro que não deve interromper as obras.
Uma liminar da Justiça Federal embargou anteontem a obra. O governo deve recorrer até amanhã ao STF.
Ontem, participaram do encontro o presidente da CNBB, d. Geraldo Lyrio, e o secretário-geral, d. Dimas Lara Barbosa. Do governo, além de Lula, estavam os ministros Geddel Vieira Lima e Luiz Dulci. A audiência foi pedida pela CNBB para que os bispos pudessem expor a preocupação com o prolongamento do jejum de d. Luiz Cappio, que hoje completa 16 dias.
"A reunião mostrou mais uma vez que o governo não está fechado ao diálogo e à contribuição de quem queira aperfeiçoar esse ou qualquer outro projeto", disse Geddel.
Os bispos entregaram a Lula uma carta na qual se colocam "à disposição para a retomada do diálogo" entre governo e d. Luiz e sugerem a criação de um grupo para analisar propostas. Questionado sobre eventual intervenção da igreja no jejum, d. Dimas afirmou: "A CNBB não está autorizada. Os próprios amigos dele e os familiares é que devem tomar essa decisão".
Estratégia: Lula fez greve de fome na prisão em abril de 1980
Quando líder sindical, o presidente Lula adotou a mesma estratégia de dom Luiz Flávio Cappio. Preso em abril de 1980, ao liderar uma greve no ABC paulista, Lula fez jejum de seis dias no Dops (Departamento de Ordem Política e Social). Quem convenceu Lula a interrompê-lo foi d. Cláudio Hummes, então bispo de Santo André e hoje "ministro" do papa no Vaticano.
(Eduardo Scolese,
Folha de São Paulo, 13/12/2007)