Ele é inspiração para grandes composições musicais, como Balseiros do Rio Uruguai, de Barbosa Lessa; fonte de alimentação para a população ribeirinha; criadouro de aves e peixes; gerador de energia elétrica; e área de lazer para gaúchos e catarinenses.

O Rio Uruguai, que faz a divisa entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina, faz fronteira com a Argentina e desemboca no estuário da Prata, na fronteira argentina com o Uruguai, está com vida e beleza ameaçadas pela ação do homem.

Uma expedição de três dias em seu leito foi realizada na semana passada pela Associação dos Amigos do Rio Uruguai. Foi uma das últimas viagens de barco saindo de Chapecó. O canal será interrompido pela barragem da Foz do Chapecó, localizada entre as cidades de Alpestre (RS) e Águas de Chapecó (SC). No percurso foi constatado que as águas de tão importante ambiente natural não é respeitada sequer no período de defeso, quando a pesca é restrita por lei devido à piracema - a época reservada para migração dos peixes em direção às nascentes para reprodução.

Pescadores insistem em tentar burlar a lei escondendo redes e espinhéis ao longo do rio. É difícil pegar os autores, mas durante a operação uma pessoa foi notificada - um policial militar reformado.

- Ele deveria dar o exemplo, pois conhece a lei - lamentou a mestre em gestão ambiental Claidi Todescatt.

Altair Fuccina, de Caiçara, foi notificado pela Polícia Ambiental de São Miguel do Oeste a depor ontem, em Mondaí. De acordo com o sargento Otair Dehin, Fuccina deve receber uma multa de R$ 700 e responder por crime ambiental, que prevê prisão de seis meses a um ano. O pescador não poderia utilizar barco movido a motor, apetrechos de pesca, como espinhel, e estava a menos de 1,5 quilômetro de corredeiras.

No trajeto, dois dourados, ambos com cerca de quatro quilos, foram encontrados mortos, um em Palmitos e outro em Itapiranga. Um dos peixes tinha marcas de rede, observou o tenente Sadiomar Dezordi, comandante da Polícia Ambiental de São Miguel do Oeste.

Viagem integra iniciativas de conscientização ambiental

Outro fato comum no rio é ver peixes boiando nas águas. Enio Bohn, da Associação dos Amigos do Rio Uruguai de Mondaí, acredita que as detonações para a construção da barragem de Foz do Chapecó podem estar contribuindo para a mortandade.

- Antes da barragem não existia este problema - comentou.

Para ele, falta efetivo para a Polícia Ambiental fiscalizar adequadamente a pesca predatória.

- Eles têm poucas equipes e outras ocorrências para atender.

O tesoureiro da associação, Valmor Danielli, disse que a entidade pretende mobilizar os órgãos oficiais para aumentar a fiscalização. Recentemente foi firmado um convênio entre a organização não-governamental e o Ministério Público de Nonoai (RS).

O promotor de Justiça do município gaúcho, Marcelo Petry, destacou que a viagem serviu para integrar os dois estados no trabalho de conscientização ambiental.

- Queremos compartilhar informações e potencializar conhecimentos - comentou.

Petry afirmou que a Promotoria pretende fazer um trabalho preventivo na questão ambiental.

- Todo mundo sabe que é piracema e mesmo assim continua colocando redes. A aproximação de ONGs, Poder Público e população ribeirinha é uma forma de tentar proteger a vida do rio - disse.

(Darci Debona, Diário Catarinense, 13/12/2007)