Os investimentos da Votorantim Celulose e Papel (VCP) de dois bilhões de dólares na construção da fábrica de celulose e base florestal na região até 2012 são apenas parte do projeto. Existe a possibilidade da construção de uma fábrica de papel e outra de pasta mecânica nos próximos anos. “Várias empresas estrangeiras estão querendo fazer uma parceria com a VCP para a construção da fábrica de papel, mas por enquanto os planos da empresa não contemplam uma sociedade”, afirma o diretor florestal da VCP, José Maria Mendes Filho. A fábrica de pasta mecânica visa produzir um papel com valor agregado.
Mendes Filho participou do almoço com a imprensa promovido pela Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), no Renaissance Hotel, em São Paulo.
Os estrangeiros têm interesse em repetir a parceria da VCP com a International Paper para a construção de uma fábrica de papel com produção de 250 mil toneladas em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, ao lado da indústria de celulose que começa a produzir 1,3 milhão de toneladas no primeiro semestre de 2009. Mendes Filho diz que o Brasil é a bola da vez na área de celulose e papel. Enquanto nos Estados Unidos o consumo é de 230 quilos per capita ao ano, no Brasil fica entre 35 e 40 e a China está nos mesmos níveis. Na Índia a situação é ainda mais promissora para as indústrias produtoras com um consumo de papel de 15 a 20 quilos per capita ao ano. “As janelas para novos negócios são estimulantes.”
Apesar de constar nos projetos da VCP, a fábrica de papel ainda não foi anunciada devido ao mercado complicado pelo real valorizado, estimulando importações e mais o desvio do chamado “papel impune”, que é liberado de impostos para os jornais e editoras de livros educacionais. A presidente da Bracelpa considera que o crescimento da importação desse papel é incompatível com os números de vendas das editoras.
No entanto, existem outros dados favoráveis ao setor. Um deles, é que a China possui várias pequenas fábricas de celulose que são poluidoras e estão sendo fechados pelo governo. “A redução na produção chinesa chega a 1,5 milhão de tonelada.” Para completar o cenário favorável, Mendes Filho ressalta que no norte dos Estados Unidos e sul do Canadá as áreas de plantio são de florestas nativas e na Ásia o percentual chega a 90% dos cortes. Estas áreas estão com o tempo contado de produção.
Estimativas do Programa de Investimento são refeitas
A Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa) refez suas estimativas do Programa de Investimento do Setor (2003-2012) para uma produção no período de 29 bilhões de dólares de celulose e papel, enquanto em 2003 a projeção era de 26 bilhões de dólares.
Entre os motivos estão os investimentos em novas fábricas, tecnologia e mercado em expansão, que provocarão também um crescimento nas exportações para 14 milhões de toneladas, quase dobrando a estimativa de 2003 de 9,4 milhões de toneladas. O faturamento das exportações deverá aumentar para 7,5 bilhões de dólares, contra 4,3 bilhões de dólares previstos em 2003.
Atualmente, o Brasil é o sexto produtor mundial de celulose e papel, mas a presidente da Bracelpa, Elizabeth de Carvalhaes, calcula que em 2008 o País ultrapasse a Suécia (quinto produtor) e em 2009, a Finlândia (quarto), ficando abaixo da China (terceiro), que produziu em 2006, 18,1 milhões de toneladas. O efeito China é muito claro no setor. “Os investimentos das indústrias de celulose começaram no meio do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês, que continua”, lembra.
A indústria brasileira de celulose e papel encerra 2007 com a produção de 11,8 milhões de toneladas de celulose. Com este resultado, o setor registra crescimento de 5,5% em relação às 11,1 milhões de toneladas produzidas em 2006. Os números de produção de papel projetam um aumento de 2,8% em relação ao ano anterior. As empresas fecham o ano com a fabricação de 8,97 milhões de toneladas de papéis de todos os tipos, volume que supera as 8,7 milhões de toneladas de 2006. As exportações em 2007 de 4,7 bilhões de dólares superaram em 16,1% o total obtido em 2006.
Bracelpa quer definir as regras do jogo
A presidente da Bracelpa, Elizabeth de Carvalhaes, assumiu há dois meses e anunciou que pretende fazer um grande debate com a sociedade em 2008 sobre questões como invasões de terra pelo MST e quilombolas. “Estes movimentos sociais comprometem o direito de propriedade e podem reduzir os investimentos nacionais e afugentar os estrangeiros.” Para ela, o maior desafio será combater as invasões e quilombolas, lutando para a regulamentação por decreto destas questões pelo Governo Federal. “Não queremos fugir da discussão, mas tratar do problema. Não podemos ficar sem saber o que vai acontecer nos próximos 15 anos”, acrescenta.
O presidente do Conselho da Bracelpa, Horácio Lafer Piva, observa que a entidade vai conversar com a imprensa, Governo e visitar as escolas para discutir a importância das florestas. “Pretendemos separar as ONGs sérias, as desinformadas com as ideológicas. “Queremos saber qual a origem dos recursos não só públicos, mas também privados, mais transparência. O Governo precisa normatizar os recursos públicos e privados investidos nas ONGs.” Em novembro passado foi instalada uma CPI no Senado para tratar do assunto.
Elizabeth de Carvalhaes entende que o tema cresceu e o diálogo com as ONGs está em pauta. “A Bracelpa vai atuar de forma mais forte nestas questões em 2008.” A entidade pretende liderar a discussão internacional sobre a globalização do setor, florestas certificadas e o papel do consumidor final. A mudança vai nos detalhes, como, por exemplo, denominar as florestas tropicais como unidade de produção de fibra para retirar a carga ideológica.
(Por Sérgio Lagranha, Diário Popular, 12/12/2007)