O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Geraldo Lyrio Rocha, admitiu ontem (12/12) que não há consenso na Igreja Católica em relação à greve de fome do bispo de Barra (BA), d. Luiz Flávio Cappio, contra a transposição das águas do Rio São Francisco. "Em torno dessa questão, não tem muita unanimidade", disse. Logo após se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, d. Geraldo disse que uma parte dos bispos avalia que d. Cappio põe em risco a própria vida, o que afronta as pregações da Igreja.
Já outra parte argumenta que ele não busca a morte. O presidente da CNBB evitou comentar a conversa que teve com Lula. "É claro que todos nós tememos a morte do bispo; por isso, a CNBB desejou conversar com o presidente Lula", afirmou d. Geraldo. "Queremos dom Luiz vivo." O presidente da República reclamou, em diversas ocasiões, da postura de d. Cappio. Lula disse, em declarações anteriores, que optará pela vida de milhões de nordestinos, que, segundo ele, dependem das obras de transposição.
Na avaliação de Lula, a greve de fome do bispo de Barra é uma questão da Igreja. Diante do impasse, representantes da CNBB, ouvidos hoje pela Rádio Jornal do Commercio, do Recife, disseram que a entidade pediu a orientação de especialistas em Direito Canônico. A conferência quer uma avaliação do caso levando em conta as normas da Igreja. O presidente da conferência disse que a atitude de d. Cappio não é uma postura "suicida", mas admite que o protesto arranha a imagem da Igreja, especialmente, num momento em que a instituição reforça a campanha contra a eutanásia e o aborto.
"Claro que a vida de um bispo é a vida da Igreja", afirmou. Em carta entregue ao presidente da República, a CNBB ressalta estar à disposição para colaborar na retomada do diálogo entre o governo e o bispo. A entidade argumenta que a comissão mista com representantes da administração federal e da sociedade para discutir a questão das obras no São Francisco, criada em 2005, após a primeira greve de fome de d. Cappio, não atendeu, "plenamente", os objetivos propostos.
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A Tarde, 12/12/2007)