No dia em que começa em Bali, na Indonésia, a reunião com mais de 130 ministros de Estado sobre a mudança no clima, organizações não-governamentais (ONGs) tentam pressionar os líderes para que decisões firmes sejam tomadas até o fim do encontro das Nações Unidas (ONU), na sexta-feira (14). Para ilustrar as críticas à suposta lentidão do processo em Bali, ativistas do grupo ambiental WWF fizeram um protesto vestidos de lesma e "se arrastando" em frente ao centro de convenções em que o encontro acontece.
"Viemos a Bali com grandes expectativas de que os países industrializados tomariam a liderança e cumpririam as suas responsabilidades históricas, como prevêem a Convenção do Clima da ONU e o Protocolo de Kyoto", afirmou a coordenadora da campanha internacional para mudança climática da ONG britânica Friends of the Earth, Stephanie Long.
Um dos maiores motivos de irritação dos ambientalistas têm sido a postura das delegações de Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália, que vêm dificultando o avanço de decisões sobre a inclusão de referências a futuros cortes de emissões entre 25% e 40% até 2020, como recomendou o Painel Intergovernamental para Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), entre outros detalhes.
Esse ponto já havia sido aceito pelos participantes da convenção para o clima da ONU no meio do ano. Para os ambientalistas, o momento é crucial. "É preciso ser claro: o que perdermos aqui em Bali, não vamos recuperar nos próximos dois anos. Se essa indicação (de cortes) não entrar, o trabalho do IPCC vai ser ridicularizado", criticou Stephan Singer, do Greenpeace Internacional.
Os americanos exigem um compromisso mais firme dos países em desenvolvimento sobre reduções de emissões para o acordo que vai substituir o Protocolo de Kyoto a partir de 2012. Para muitos ambientalistas, essa posição beira a "má fé", como declarou Richard Worthington, da ONG Earthlife Africa Johannesburg. "Os Estados Unidos estão tentando nada menos do que desmantelar a estrutura da convenção do clima", criticou.
Um dos princípios fundamentais da convenção criada durante a conferência Rio 92 foi o de "responsabilidades comuns, mas diferenciadas", uma forma de levar em conta a participação histórica maior dos países ricos na poluição que leva ao aquecimento global, bem como a sua maior capacidade de investir em ações de combate ao problema.
Outro tema que parece ter esbarrado em impasses é a questão da transferência de tecnologia, ponto considerado vital para que os países em desenvolvimento consigam manter um crescimento econômico sem aumentar as emissões de gases poluentes. As negociações sobre este tema foram empurradas para o ano que vem pelo grupo que estudava o assunto. Na semana passada, o grupo dos países em desenvolvimento, o G77, e a China expressaram o interesse na criação de um cronograma para a transferência de novas tecnologias mais limpas, bem como a necessidade de financiamentos específicos.
No entanto, no encerramento dos trabalhos de segunda-feira, o grupo dos países desenvolvidos decidiu postergar a discussão sobre o tema. Agora, ambientalistas querem que os ministros retomem o assunto e tomem alguma decisão até sexta-feira (14). "Estamos perto de um impasse. É preciso que a União Européia finalmente tome a liderança do processo e defenda questões vitais como a transferência de tecnologias e o aumento de linhas de crédito. Os países ricos têm a responsabilidade moral e formal de tomar as iniciativas", disse Stephan Singer, do Greenpeace.
(Estadão Online,
Ambiente Brasil, 13/12/2007)