O papa Bento XVI pediu a "família humana" que adote uma política de defesa do meio ambiente, "sem precipitações ideológicas", que respeite o equilíbrio ecológico e as necessidades dos países pobres, em mensagem que será divulgada em 1 de janeiro de 2008. Na carta, que será lida em todas as paróquias do mundo por ocasião da jornada mundial pela paz, o chefe da Igreja católica pede que seja lembrado "um modelo de desenvolvimento sustentável capaz de assegurar o bem-estar de todos, através do respeito ao eqüilíbrio ecológico".
A mensagem do Papa, tradicionalmente divulgada com antecedência, coincide com a celebração da conferência mundial sobre o clima que acontece em Bali (Indonésia) sob o patrocínio das Nações Unidas. O pontífice reconhece que a "humanidade teme pelo futuro equilíbrio ecológico" e sustenta que "seria bom que as avaliações a esse respeito se fizessem com prudência, através do diálogo entre especialistas, sem precipitações ideológicas nem conclusões apressadas", escreveu.
"Se o cuidado com o meio ambiente tem seus custos, estes devem ser distribuídos com justiça, levando-se em conta o desenvolvimento dos diversos países e a solidariedade com as futuras gerações", completou. Para o Papa alemão é fundamental "sentir a Terra como nossa casa comum e adotar o caminho do diálogo em vez de decisões unilaterais.
"Os países emergentes têm fome de energia, mas às vezes esta fome se sacia à custa dos países pobres que, por insuficiência de infra-estrutura e tecnologia, se vêm obrigados a vender os recursos energéticos que possuem", denuncia Bento XVI. Para o pontífice é fundamental "que amadureça nas consciências a convicção de que é necessário colaborar responsavelmente" e adverte: "os problemas que aparecem no horizonte são complexos e o tempo urge".
"Respeitar o meio ambiente não quer dizer que a natureza material ou animal seja mais importante que o homem. Quer dizer que não a consideramos de maneira egoísta, à disposição plena dos próprios interesses, porque as gerações futuras têm também o direito de usufruir do benefício da criação", comentou.
A mensagem do Papa, que será lida durante a homilia do primeiro dia do ano, tem como título "Família humana, comunidade de paz" e constitui uma reflexão sobre os problemas do mundo atual, seus valores éticos e morais. O documento, de quase quatro páginas, inicia com uma defesa do papel da família tradicional na sociedade. "A família natural, enquanto comunhão íntima de vida e amor, baseada no matrimônio entre um homem e uma mulher, é o 'lugar primário de humanização' da pessoa e a sociedade", sustenta em sua carta.
Para Bento XVI "quem dificulta a instituição familiar, ainda que seja inconscientemente, fragiliza a paz de toda a comunidade, em nível nacional e internacional, porque debilita o que, de fato, é a principal 'agência de paz'", comentou. O chefe da Igreja católica critica também os que "dificultam direta ou indiretamente a disponibilidade para a acolhida responsável de uma nova vida" porque dessa maneira impedem "o caminho da paz".
Estima que o mundo necessita de normas jurídicas comuns e um maior diálogo entre Estados e organismos internacionais para o reconhecimento dos direitos humanos fundamentais. "O crescimento da cultura jurídica no mundo deve dar sempre consistência às normas internacionais com conteúdo profundamente humano, evitando rebaixá-las a meros procedimentos", enfatizou.
Em sua carta, o Papa lamenta as "grandes divisões e fortes conflitos que projetam densas nuvens sobre o futuro", referindo-se ao perigo de que países se abasteçam de armas nucleares e critica o tráfico de armas temendo uma "espiral de violência" "Sinto o dever de suplicar às autoridades que se reiniciem as negociações, com uma determinação mais firme, acerca do desmantelamento progressivo e acertado das armas nucleares existentes", concluiu.
(
Agência G1, 11/12/2007)