Dom Luiz Flávio Cappio diz que começa a se sentir "fisicamente debilitado"O bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 61, afirmou ontem (11/12), em Sobradinho (540 km de Salvador), que a liminar concedida pela Justiça Federal, determinando a suspensão das obras da transposição das águas do rio São Francisco, não o fará encerrar sua greve de fome contra o projeto.
"Ainda não estamos no fim. Foi um grande sinal de esperança, mas ainda não estamos no final da nossa luta", afirmou ele, confirmando, pela primeira vez, sentir-se "fisicamente debilitado". "Fomos presenteados com a chegada da liminar, mas, evidentemente, o governo vai recorrer. Ainda mantenho o meu jejum", disse.
O religioso, que completa na manhã de hoje 15 dias sem se alimentar, reafirmou que só encerrará o protesto quando houver sinal "concreto" de que a obra será paralisada definitivamente, e o Exército, que executa o projeto, retirar suas tropas dos locais de trabalho.
"Precisamos ver como o governo vai se comportar", afirmou dom Luiz. "A partir do que acontecer, esperamos ver um sinal de esperança para a conclusão dessa luta."
O bispo disse que, apesar de se sentir "fisicamente debilitado", está "mentalmente bem". Segundo ele, há momentos em que sente a "cabeça pesada, fraqueza, vontade de sentar, de deitar e de dormir".
Dom Luiz afirmou que tem sonhado muito quando dorme, mas "sem pesadelos". Nos últimos dias, ele ampliou os períodos de descanso. Há oito dias, por ordem médica, também substituiu a água por soro caseiro. Bebe cerca de três litros por dia, em pequenas doses servidas em um copo de geléia.
Apesar dos problemas físicos que começam a lhe incomodar, o religioso mantém sua rotina. Conversa com romeiros e visitantes, sempre à sombra de uma árvore, ao lado da igreja de São Francisco, onde jejua.
Ontem, no final da tarde, o bispo recebeu a deputada federal Luciana Genro (PSOL-RS) e o líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stedile.
A deputada disse que buscará ampliar o apoio político ao religioso no Congresso, por meio de articulações e pronunciamentos em plenário. Afirmou também que não vê mais possibilidade de um acordo entre dom Luiz e o governo.
Stedile disse que o MST intensificará ações para nacionalizar o debate. "Aumentaremos nossa voz de denúncia em outras regiões do Brasil, que não são banhadas pelo rio São Francisco e que, aparentemente, não se sentem ligadas ao caso", afirmou.
Saída: Lula discute hoje com a CNBB forma de encerra a greve de fomeO presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe hoje pela manhã no Palácio do Planalto a direção da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). O encontro, para discutir a greve de fome de dom Luiz Cappio, estava previsto para ontem, mas foi adiado por conta das articulações do petista em torno da prorrogação da CPMF.
(Fábio Guibu,
Folha de São Paulo, 12/12/2007)