A Comissão Pastoral da Terra divulgou, segunda-feira (10/12), dados parciais sobre conflitos no campo relativos aos meses de janeiro a setembro de 2007. Segundo o relatório, 42,5% dos conflitos foram registrados nos Estados banhados pelo rio São Francisco, objeto do projeto de Transposição do governo federal e motivo do jejum realizado por Dom Luiz Cappio, na Bahia. Outro dado relevante foi o número de assassinatos, que chegou a 25, até dezembro deste ano.
Levando em conta o território nacional, houve um aumento no número de conflitos pela água em relação ao mesmo período do ano passado. Em 2006, ocorreram 38 conflitos. Já neste ano, foram 40. O número de pessoas envolvidas mais que dobrou: 12.632 para 25.919. A região Sudeste foi a que apresentou maior aumento: de 6, em 2006, para 14, em 2007. Destes, 11 são em Minas Gerais.
Em relação à totalidade de conflitos no campo, houve uma queda nos números deste ano, observando-se o mesmo período do ano passado. O total de conflitos no campo (por terra, por água, trabalhistas, etc.) de 1.414, em 2006, caiu para 837. O número de pessoas envolvidas passou de 652.284 para 561.926, e o número de assassinatos de 30 para 19.
A região Sudeste foi a única que apresentou crescimento no número de conflitos, passando de 180 para 193, e no número de pessoas envolvidas, que saltou de 71.983 para 112.356. "O grande progresso tecnológico aplicado ao campo e o avanço das monoculturas geram, além das riquezas propagandeadas, maior desigualdade, exclusão e, em conseqüência disso, novos e graves conflitos", aponta o relatório.
A ação de despejo de famílias de suas terras aumentou em todas as regiões do Brasil. Em 2006, para cada ocorrência de conflito houve 1,2 famílias expulsas, 16 despejadas e os assassinatos correspondiam a um para cada 47 conflitos. No mesmo período de 2007, para cada ocorrência de conflito se computam 5 famílias expulsas, 19 despejadas e um assassinato para 44 conflitos. As famílias expulsas passaram de 1.657, em 2006, para 2.711, em 2007.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra, esses números demonstram que continua muito elevado o número de famílias sem terra. Dessa forma, há uma necessidade urgente de um programa efetivo de reforma agrária. Os programas assistencialistas do governo são apontados como desestimulantes na luta pela terra. "O que se pode sentir é que a não execução da reforma agrária, com famílias acampadas há 4, 5, 6 ou mais anos, desestimula a ação dos trabalhadores e dos seus movimentos. O bolsa-família, dando um mínimo de condições para as famílias terem o alimento de cada dia, acaba arrefecendo o ímpeto de quem, premido pela necessidade, tem que buscar a qualquer custo seus meios de sobrevivência", ressalta o relatório.
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Adital, 10/12/2007)