O planeta deverá se preparar para eventos climáticos extremos, a menos que antes de 2050 a emissão mundial de gases causadores do efeito estufa diminua pela metade. O alerta correu por conta de 200 cientistas participantes da conferência das partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática, nesta cidade da ilha de Bali, na Indonésia. Estes especialistas em clima estiveram encarregados de elaborar a Declaração de Bali no contexto da conferência que começou no último dia 3 e terminará na próxima sexta-feira. Os cientistas pediram urgência aos negociadores de 180 países para acordar a redução de suas emissões desses gases em 50% até 2050, em relação aos níveis de 1990.
A maioria dos cientistas atribui o aquecimento do planeta a esses gases, como o dióxido de carbono, metano e óxido nitroso. As emissões destes gases devem diminuir entre os próximos 10 a 15 anos para evitar que se intensifiquem as ondas gigantes, as secas, as inundações e as tempestades, disseram os cientistas na declaração patrocinada pelo Centro de Pesquisa de Mudança Climática da Universidade de Nova Gales do Sul, na cidade australiana de Sydney. Os assentamentos litorâneos, os conglomerados urbanos e os ecossistemas estão em grave perigo de extinção se tudo continuar com está, alerta a declaração.
“A mudança climática é real e não há tempo a perder”, ressaltou Richard Sommerville, do Instituto Scripps de Oceanografia, na cidade norte-americana de São Diego, que assinou a declaração. “Todas as nações têm a responsabilidade de agir agora, antes que expire o Protocolo de Kyoto, em 2012”, enfatizou. Neste tratado estabelecido em 1997 na cidade japonesa de Kyoto 36 países industrializados se comprometeram a reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa em pelo menos 5,2% até 2012, em relação aos níveis de 1990. Sommerville disse que os cientistas não tinham mais sugestões a oferecer aos negociadores presentes em Bali além das contidas na declaração.
“A ciência confirma que as mudanças climáticas ocorrem mais rapidamente, inclusive, do que o previsto pelos modelos climáticos mais otimistas. Estas negociações devem ser o pontapé inicial de um processo que desemboque em um novo acordo internacional, que fixe objetivos rígidos e do qual participe a maioria das nações”, afirmou Sommerville. “Em Bali, devem ser tomadas medidas urgentes tendo em conta os desastres vinculados com o clima que já ocorrem tanto nos países em desenvolvimento quanto nos industrializados”, acrescentou. Ativistas com os quais a IPS falou esperam que a conferência na Indonésia chegue a um acordo geral para reduzir as emissões de forma substancial até 2050.
“Pedimos urgência aos governos para que apóiem as negociações com vistas a um acordo posterior ao de Kyoto para que um regime rígido leve à redução de suas emissões em 80% até 2050”, disse Ramon Faustino Sales, representante da Rede sobre Mudança Climática das Filipinas. Esta é uma aliança de organizações não-governamentais dedicadas a questões de desenvolvimento sustentável e mudança climática. Por sua vez, o secretário-executivo da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, Yvo de Boer, se mostrou otimista quanto aos líderes presentes à reunião chegarem a um acordo sobre um mecanismo que fixe um novo compromisso para o cumprimento do Protocolo de Kyoto.
“As partes devem chegar acordar um conjunto de ferramentas que reduzam as custosas emissões e permitam o crescimento econômico. O último passo do processo de negociações de dois anos será definir objetivos e instrumentos legais necessários para que funcione o novo acordo internacional”, disse De Boer à imprensa. Ele também espera que a conferência habilite um fundo proposto “para que, talvez em apenas um ano, surjam recursos destinados à adaptação às mudanças climáticas das nações em desenvolvimento. Espera-se que esse fundo financie projetos como a construção de muros para deter a elevação do nível do mar, melhoria no fornecimento de água em zonas que sofrem seca e capacitação em novas técnicas agrícolas”, explicou o secretário-executivo da Convenção.
O fundo de adaptação se baseia em um imposto de 2% sobre os projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, estabelecido pelo Protocolo de Kyoto. O fundo pode chegar aos US$ 300 milhões por ano quando o convênio expirar, em 2012. O esquema contempla que as nações ricas possam superar seus limites de emissões se financiarem projetos para reduzir as mesas nos países em desenvolvimento. Com mais de 10 mil participantes, a conferência se concentra em quatro aspectos centrais: estabelecimento de um mecanismo para chegar a um consenso de adaptação à mudança climática, atenuantes para conter as fontes de gases causadores do efeito estufa, transferência de tecnologia dos países ricos para os menos desenvolvidos e um programa de financiamento para frear o fenômeno.
Com a finalidade de impulsionar o projeto, a Indonésia organizou reuniões com os ministros de Comércio no sábado e no domingo, e outra, entre os ministros da Fazenda, está marcada para os dias 10 e 11 próximos, antes da sessão de encerramento dos ministros de Meio Ambiente, que acontecerá de 12 a 14 deste mês. O melhor resultado possível seria contar com um “mapa de Bali”, um plano de ação para chegar, em 2009, a um acordo em que mais países se comprometam a reduzir suas emissões e ampliar o alcance do Protocolo de Kyoto na inclusão das emissões produzidas pelo desmatamento, disse Victoria Tauli-Corpuz, presidente do Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas.
Por outro lado, o pior resultado seria as negociações terminarem com “outra declaração vaga que reconheça o problema mas não apresente nenhum plano concreto”, disse, por sua vez, o diretor do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), Hans Verolme, cuja organização pressiona pela fixação de uma redução de 30% das emissões até 2020.
(Por Imelda Abano,
IPS, 10/12/2007)