O projeto de lei de autoria do vereador de Florianópolis Deglaber Goulart (PMDB) que proíbe o uso de animais como cobaias no município é reflexo da falta de educação científica no país, de acordo com o biólogo Luiz Eugênio Mello, presidente da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe). A proposta foi aprovada depois que o prefeito Dário Berger (PSDB) perdeu o prazo de 15 dias para apreciação. Berger, no entanto, afirmou que vai entrar com uma ação de inconstitucionalidade para tentar conter a medida.
Mello recebeu a notícia de que o prefeito vai correr atrás do prejuízo com alívio. “É muito bom. Do ponto de vista pragmático, é o que deveria ter sido feito”, disse ele ao G1. O cientista apenas lamenta que a questão tenha chegado a esse ponto. “Na terra de ninguém, todo mundo se sente no direito de fazer lei”, afirmou Mello, ao reforçar que a Câmara de Deputados precisa colocar logo em votação o projeto de lei federal que regulamenta o uso de cobaias em pesquisa científica. “Enquanto não tivermos uma lei federal, vai ser assim,” diz ele.
Para o biólogo, no entanto, há uma questão mais séria envolvida no problema: a falha na educação brasileira. O pesquisador lembrou os resultados do Pisa (Programa Internacional de Avalição de Alunos), divulgados na semana passada, que mostraram que o país tem um dos piores desempenhos em ciência do mundo.
“O nível de conhecimento de ciência dos alunos brasileiros é ridículo. E o da população em geral também”, diz Mello. “Enquanto isso continuar, vão continuar aparecendo propostas absurdas como essa”, diz ele.
O biólogo afirma que é preciso reverter esse quadro e ensinar aos brasileiros o valor do conhecimento científico. “A população precisa saber que, como disse o Marcelo Frajblat [presidente do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal], quando entrar em qualquer farmácia ela estará escolhendo entre diversos remédios que tiveram, todos, anos de pesquisa com experimentação animal por trás, e que, sem isso, tomar remédio seria uma roleta-russa”, explica. “A pesquisa com animais é imprescindível”, diz ele.
(Marília Juste,
Agência G1, 11/12/2007)