"A justiça tem que ser feita para mim enquanto ainda estou vivo e não depois de morto, como aconteceu com a Irmã Dorothy". Com essa declaração, o índio Odair Borarí - da etnia Borarí, da na Gleba Nova Olinda, a 14 horas de Santarém, Oeste do Pará - mostrou a sua indignação com o fato de sofrer constantes ameaças de morte e atentados contra ele e sua família. "Desde 2000, as ameaças começaram informais. Depois, tentaram jogar uma lancha para cima de mim, quando estava em uma canoa, e ameaçaram tocar fogo na minha casa na aldeia e matar minha mulher e meus filhos", relata o cacique, que receberá o Prêmio José Carlos Castro de Direitos Humanos 2007, da OAB/Pará.
Mesmo ameaçado, os piores ataques vieram depois. "Na primeira vez, eles me bateram, deram várias coronhadas na minha cabeça e rasgaram meus documentos", afirma. "Depois, em abril deste ano, vários homens disseram que eu não sabia com quem estava lidando e me amarraram no mato durante sete horas, enquanto eu apanhava e eles gritavam comigo". Ele credita os ataques de desconhecidos aos empresários que atuam dentro do território indígena. "Nós não aceitamos o desmatamento sendo feito pelos projetos de agricultores e empresários. Existem dez empresas atuando na nossa reserva, dizendo que ganharam do governo o direito de explorar a área". Para ele, a solução seria a demarcação das terras indígenas.
Ele também denuncia que a segurança destinada pelos governos para proteger sua vida é falha e pode acabar em tragédia anunciada. "A segurança não corresponde ao que foi prometido. Um dos dois policiais encarregados da minha segurança faz bicos e o outros coordenam a unidade de polícia de lá", relata. "Por isso, fico mais de 12 horas desprotegido. Deixo de fazer pesquisas para dar aula e não posso levar meus filhos para o hospital quando estão doentes".
O relato de Odair foi feito durante o Seminário "Amazônia: A Paz se constrói com Justiça e Cidadania para Todos e Todas", promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Norte II (Pará e Amapá). Segundo Henriqueta Cavalcante, da Comissão Justiça e Paz da CNBB, o objetivo do encontro é discutir e escutar relatos de violações dos Direitos Humanos, "criando uma forma de fortalecer a luta na defesa da dignidade humana e das lutas sociais".
Eclusas de TucuruíLindomar Silva, da Cáritas Metropolitana de Belém, fez um alerta com relação à invasão das obras das eclusas de Tucuruí pelos membros do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB). "Pode haver uma tragédia ali, pois o governo já tem o mandado de reintegração de posse do local e o MAB promete resistir, pois já seria a quarta vez que o governo promete e não cumpre", disse. Segundo ele, as entidades estão procurando uma maneira de negociar para evitar conflitos, uma vez que a indenização dos pescadores não foi liberada e a única providência foi a entrega de cestas básicas.
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Diário do Pará, 09/12/2007)