No que depender das organizações ambientais que atuam na região do Rio Madeira, a hidrelétrica de Santo Antônio não deverá sair com tanta facilidade do papel. Por enquanto, duas ações estão em trâmite na justiça e tentam impedir a validade do leilão realizado ontem. Uma foi enviada pelo Ministério Público de Rondônia e a outra, pela ONG Amigos da Terra. Esta última deverá ter um pedido de liminar julgado ainda nesta semana.
Para Gustavo Pimentel, gerente da Amigos da Terra, um grande problema envolvendo o projeto foi a troca da diretoria do Ibama, ocorrida depois que o instituto soltou um parecer técnico, em março, contra a licença ambiental prévia para a usina. "A licença saiu em julho, mas só se tornou pública em novembro, sem que quase nada do que havia sido pedido pelos técnicos anteriores tenha sido feito."
Glenn Switkes, diretor da ONG americana International Rivers para a América Latina, diz que o projeto do rio Madeira "é o pior caso de grande empreendimento realizado na Amazônia, feito contra pareceres de vários especialistas e técnicos da própria agência de proteção ambiental", também citando a troca da diretoria do Ibama.
Ele acredita que o leilão da usina de Santo Antônio é muito preocupante porque indica o esforço do governo para aprovar no futuro mais projetos que vão causar impactos em terras indígenas e na floresta Amazônica. "Se de um lado o governo passa uma imagem de que está tentando diminuir os desmatamentos, do outro traz as usinas, com uma série de impactos ambientais diretas e ecológicos."
Pimentel acredita que uma solução alternativa para a construção da hidrelétrica seria trocar equipamentos de usinas antigas. "Novas turbinas poderiam aumentar a eficiência das hidrelétricas existentes em 8 mil MW em dois anos, o que seria mais do que todo o projeto do Rio Madeira."
Conforme Iremar Antonio Ferreira, da Campanha Rio Madeira Vivo, muitas discussões ainda estão por vir, inclusive com entidades também da Bolívia, já que a próxima hidrelétrica a ser leiloada será a de Jirau, na fronteira. "Estamos tratando da articulação com companheiros de outros movimentos, e vamos seguir o caminho da usina de Belo Monte, na área do rio Xingu e que está em discussão há 20 anos."
(Marina Faleiros,
Folha de São Paulo, 11/12/2007)