A Funai (Fundação Nacional do Índio) cedeu ontem à pressões dos índios cinta-larga e envia hoje seu presidente, Márcio Meira, para negociar com a etnia dentro da reserva Roosevelt, em Rondônia, a liberação de cinco reféns mantidos no local desde sábado.
Segundo a Polícia Federal, são reféns na aldeia o espanhol David Martín Castro, oficial do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas); o procurador regional da República Reginaldo Pereira da Trindade, acompanhado de sua noiva; o administrador da Funai em Ji-Paraná, Vicente Batista; e o motorista Mauro Gonçalves.
Segundo o procurador Svamer Cordeiro, que trabalha com Trindade, o grupo não está sofrendo maus-tratos. A principal exigência dos índios é a retirada da Polícia Federal das barreiras de acesso às aldeias. Por isso, a polícia não participa das negociações.
As conversas para a liberação do grupo ocorreriam ontem em Cacoal, a 130 quilômetros da entrada da reserva. Marcelo Cinta-Larga, 27, presidente do conselho da tribo, exigiu que Meira entrasse na aldeia Roosevelt para conversar na presença de mais de 300 índios. A Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), que acompanha a negociação, pediu aos índios que libertassem os reféns antes da entrada de Meira na reserva, às 6h (8h em Brasília), mas o pedido não foi aceito pelos índios cinta-larga.
ExpectativaA expectativa é que os reféns sejam soltos hoje, a partir das 15h locais (17h em Brasília), horário previsto para saída de Meira da aldeia. "Se aceitar [o pedido], vamos liberar", afirmou Marcelo Cinta-Larga. O oficial da ONU Castro, 30, foi à aldeia Roosevelt para verificar denúncias sobre constrangimentos que os índios estariam sofrendo pela PF, como revistas íntimas à procura de diamantes, pedra explorada na reserva. A PF confirma as revistas, e informou que irá apurar se houve constrangimentos.
A disputa por diamantes na reserva Roosevelt provocou, no dia 7 de abril de 2004, um conflito que resultou na morte de 29 garimpeiros pelos índios em Espigão D'Oeste (RO). Na época, o governo fechou o garimpo, mas a exploração foi retomada pouco depois. Em setembro deste ano, a PF prendeu dois índios em Porto Velho (RO) com 24 pedras preciosas extraídas da reserva Roosevelt, quando tentavam vendê-las a dois compradores. Mas os garimpeiros também voltaram à reserva, o que aumenta o risco de conflitos. Em março, a PF viu ao menos 40 homens em diversas clareiras.
(Kátia Brasil,
Folha de São Paulo, 11/12/2007)