Um abalo sísmico de magnitude 9 na escala Richter, seguido por um tsunami de enormes proporções: este cenário é aquele que mais temem duas equipes de sismologistas franceses e americanos para a cidade de Padang, situada na costa oeste da ilha de Sumatra, na Indonésia. "Desde 2004, diversos abalos sísmicos sucessivos romperam a totalidade da zona de subdução (local onde se juntam placas tectônicas) ao longo da orla de Sumatra, exceto uma faixa de 200 km situada à altura de Padang. Segundo os dados que nós acabamos de analisar, a situação desta cidade permanece muito preocupante", sublinha Christophe Vigny, do laboratório de geologia da Ecole Normale Supérieure de Paris, cuja equipe instalou na região equipamentos GPS (de rastreamento por satélite) de maneira a acompanhar as movimentações da crosta terrestre.
Padang é uma aglomeração de cerca de 1 milhão de habitantes cujo labirinto de vielas tornaria toda evacuação difícil, particularmente em caso de tsunami. Um cenário de sinistra memória. Em 26 de dezembro de 2004, no alto-mar à altura de Banda Atjeh (norte de Sumatra), um abalo sísmico de magnitude 9,4 levantou o fundo do mar. O tsunami que dele resultou arrebentou sobre os países banhados pelo oceano Índico, surpreendendo habitantes e turistas. Balanço: mais de 220.000 vítimas. Outros abalos sísmicos foram sentidos desde então ao longo da orla da ilha. O mais recente - de uma magnitude de 8,4 - atingiu Bengkulu em 12 de setembro.
A costa oeste de Sumatra encontra-se no ponto de contato de três placas tectônicas. Em alto-mar, as placas indiana e australiana convergem rumo a uma outra placa, o bloco da Sonde (onde se encontra Sumatra), formando uma zona chamada de "subdução", a 100 km em alto-mar, à altura da ilha. Ali, a placa da Sonde é comprimida como uma mola, o que faz com que ela acumule energia. Mas ela também entra em atrito e desliza em relação às duas outras. O resultado disso foi que uma grande fenda se formou no interior da terra, que também é capaz, por sua vez, de gerar abalos sísmicos. Esta fenda situa-se a cerca de vinte quilômetros a leste de Padang.
Mas o risco que vem do mar é ainda maior. "Nós conseguimos localizar os sinais dos terremotos históricos que ocorreram nesta zona. Em 1797, um tsunami submergiu Padang. Além disso, em 1833, um abalo sísmico de magnitude 9 também ocorreu nesta área", explica Jean-Philippe Avouac, o diretor do Observatório de Tectônica no Instituto de Tecnologia da Califórnia. Uma de suas equipes está estudando a zona de subdução com o auxílio de um fenômeno natural, os porites, uma espécie de coral. Estes crescem de maneiras diferentes, dependendo de se o fundo dos oceanos onde eles estão afixados está afundando ou está se levantando no momento dos abalos sísmicos, deixando livre uma parte deles. Os estratos (camadas) formados no decorrer do tempo registram as movimentações da crosta terrestre.
"Os porites de Padang encontram-se no nível em que eles estavam antes do terremoto de 1833", sublinha Jean-Philippe Avouac. "Toda a energia que havia sido liberada por este abalo sísmico voltou a ser armazenada desde então. O que significa que o próximo poderia ser de magnitude 9. Se a zona se romper de uma só vez, existe um risco de ocorrer um tsunami. Em função da maneira com que este segmento está orientado na zona de subdução, os efeitos sobre os países da região sul-asiática seriam bastante inferiores àqueles verificados em 2004, mas, sobre Padang, este provável tsunami poderia ser tão destruidor quanto aquele de Banda Atjeh. Existe também uma outra possibilidade, a de que esta zona libere por vezes sucessivas, a energia que nela está acumulada. Atualmente, não se pode prever o que irá acontecer. É por esta razão que a nossa mensagem é: o melhor a fazer é preparar-se para o pior".
Em caso de ocorrência de um abalo sísmico em alto-mar, um outro perigo pode vir da terra. "Quando uma fenda se movimenta, ela influencia a outra. Se a zona de subdução oceânica se romper, a fenda continental corre o risco de se romper também", explica Christophe Vigny, cuja equipe se dedica a vigiar particularmente esta última. Além disso, mesmo no caso em que os abalos sísmicos que ela gera se revelem menos violentos, nem por isso eles deixariam de ser extremamente mortíferos, principalmente nas aldeias situadas nos declives dos morros, onde deslizamentos de terreno arriscariam ocorrer. Com isso, Padang está confrontada a um duplo risco, para o qual os pesquisadores têm dificuldades a conscientizar as autoridades locais.
(Por Jean-François Haït, Le Monde,
UOL, 11/12/2007)