Os habitantes de países pobres correm risco muito maior de ser vítimas de catástrofes climáticas do que os de países com renda elevada, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008 do PNUD, intitulado “Combater a mudança do clima: solidariedade humana em um mundo dividido”.
Com base em dados do Escritório de Ajuda a Desastres no Exterior, ligado ao governo norte-americano, o estudo conclui que o impacto nas nações pobres é 78 vezes maior: a cada 19 moradores de países em desenvolvimento, 1 foi vítima de tragédias como secas, tsunamis e furacões entre 2000 e 2004. Nos países desenvolvidos, o número é de 1 a cada 1.500.
"Em muitos países, a pobreza está intimamente ligada à contínua exposição aos riscos climáticos", diz o texto do PNUD. Pelo menos 108 milhões de pessoas já foram afetadas por inundações no leste e no sul da Ásia, e 10 milhões foram vítimas da secas na África Subsaariana. Em 2007, mais de 21 milhões de pessoas ficaram desabrigadas e mil morreram devido às tempestades ocorridas em Bangladesh e na Índia.
O relatório observa que o risco de desastres naturais afeta todos os países, mas os mais pobres são especialmente vulneráveis, devido às desigualdades internas, às economias frágeis e ao baixo desenvolvimento humano. “Dois bilhões de pessoas - 40% da população do mundo - vivem com menos de US$ 2 ao dia e estão intrinsecamente vulneráveis (aos desastres naturais), porque têm menos recursos para enfrentá-los”, afirma o estudo. A pobreza diminui as chances de recuperação depois de um desastre e potencializa a falta de infra-estrutura para proteção às mudanças climáticas.
“Elevados níveis de dependência econômica na agricultura, média de rendimentos mais baixa, condições ecológicas já frágeis e a localização em áreas tropicais que enfrentam padrões climáticos mais extremos são, todos eles, fatores de vulnerabilidade”, exemplifica o texto. “O Japão enfrenta uma maior exposição a riscos associados a ciclones e inundações do que as Filipinas. No entanto, entre 2000 e 2004, a média de fatalidades chegou a 711 nas Filipinas contra apenas 66 no Japão”, compara o RDH.
A desigualdade social também eleva a vulnerabilidade às alterações climáticas e faz com que os efeitos sejam maiores do que em sociedades mais homogêneas, segundo o relatório. A Guatemala, por exemplo, tem IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,689, maior do que o da Índia e da África do Sul. Entretanto, o país é marcado por grandes disparidades internas entre as populações nativas e os descendentes dos colonizadores. A subnutrição entre os indígenas é o dobro da registrada nos não-indígenas. “Quando o Furacão Stan atingiu as terras altas do oeste da Guatemala, em 2005, seu impacto foi maior nos indígenas, na maioria camponeses de subsistência ou agricultores. A perda de cereais básicos, o esgotamento das reservas alimentares e a queda das oportunidades de emprego ampliaram os graves níveis de pobreza, com as desigualdades criando uma barreira para a recuperação”, diz o estudo.
O documento do PNUD salienta também que mulheres correm mais riscos com os desastres climáticos. Segundo o RDH, as desvantagens históricas das mulheres – o seu acesso limitado a recursos, a restrição de direitos e a falta de voz na formulação de decisões - tornam-nas altamente vulneráveis às alterações climáticas.
(PrimaPagina/ Pnud,
Ambiente Brasil, 11/12/2007)