Três especialistas do Observatório Sismológico da UnB chegam nesta segunda-feira a Itacarambi para apurar as causas do terremoto. Defesa Civil remove 76 famílias para abrigos provisórios
Três especialistas do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB) chegam nesta segunda-feira a Itacarambi, no Norte de Minas. Eles vão levar mais equipamentos para a região e conversar com moradores para apurar as causas do tremor, o maior já registrado no estado. O professor Lucas Vieira Barros, que chefia a equipe, diz que é grande a possibilidade de o evento se repetir. Diante disso, as famílias de Caraíbas, o epicentro do abalo, estão sendo retiradas de casa. No domingo, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) removeu pelo menos 76. O ideal, segundo o especialista, é levá-las para abrigos distantes ou mantê-las em barracas, por causa do risco de mais desabamentos.
O primeiro tremor na região foi registrado em 24 de maio pelo observatório. Ele teve 3.5 pontos na escala Richter e foi sentido com mais intensidade em Araçá, na zona rural de Januária. Apesar de não ter provocado danos materiais, houve susto e corre-corre na localidade com cerca de 100 imóveis. De lá para cá, pelo menos 17 abalos de menor intensidade foram notados, o que levou a universidade a instalar seis estações sismológicas para monitorar a situação.
O professor esclarece que não é possível evitar outras ocorrências, mas avaliar o risco da região e prevenir tragédias. “As construções de Caraíbas não têm boa qualidade e não conseguem resistir ao chacoalhar da terra. É necessário refazer ou reformá-las com padrões mais seguros”, comenta.
O terremoto foi registrado pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, sigla em inglês) e sentido em Montes Claros, Barreiras (BA), Rio de Janeiro e Brasília, segundo o órgão. Apesar de ser considerada moderada, a ruptura da estrutura geológica se deu em baixa profundidade, o que agravou os danos. Enquanto o fenômeno ocorreu entre um e dois quilômetros da superfície, o normal, no Brasil, são 30 quilômetros. O abalo não foi o mais forte já registrado no país. Houve cerca de 20 de magnitude semelhante ou superior na história, de acordo com levantamento da universidade.
Os maiores ocorreram no Norte de Mato Grosso, em 1955, atingindo 6.6 na escala Richter, no litoral do Espírito Santo, também em 1955 (6.3), e no Amazonas, em 1983 (5.5). Porém, eles se deram em áreas desabitadas e não causaram grandes estragos. O caso mais semelhante ocorreu em João Câmara (RN). De agosto a novembro de 1986, uma série de abalos, o maior de 5.1, danificou 4 mil imóveis na região.
SistemasOs especialistas usam dois sistemas para medir a força dos tremores. A escala Richter, que vai até nove, foi idealizada pelo físico norte-americano Charles Richter em 1935 e informa a quantidade de energia propagada nas ondas sismológicas. Trata-se de uma medida da amplitude. Já a escala Mercalli (até 12), considerada mais completa, permite saber a intensidade do abalo em determinado lugar, considerando-se a distância do epicentro. Em Caraíbas, ela chegou a sete.
Desde o primeiro susto, nas proximidades de Januária, moradores da zona rural de Itacarambi vivem tensos. Em outubro, a pedido de um vereador e do escritório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Universidade de Brasília (UnB) enviou dois técnicos ao município para estudar os fenômenos e instalar as estações.
Um dos especialistas teria dito que os abalos não ofereciam riscos, numa tentativa de tranqüilizar os moradores. “Ele disse que a seca era mais preocupante”, lembra a aposentada Antônia Souza Lopes, de 63 anos, que teve a casa parcialmente destruída e acompanhava o marido, o também aposentado Adolfo Fiúza de Castro, internado no Hospital Municipal de Itacarambi. Ela conta que, a despeito da orientação, teve vontade de se mudar. No entanto, enfrentou a resistência do companheiro. “Sou muito apegada a Caraíbas. Mas depois do terremoto, não pretendo mais voltar”, comenta.
(Fábio Fabrini, Luiz Ribeiro,
Estado de Minas, 10/12/2007)