Para atender o aumento do consumo, o País teria de construir o equivalente a um Complexo do Madeira por ano O Complexo do Rio Madeira, de 6.450 megawatts (MW), é o empreendimento elétrico mais importante e desafiador do Brasil hoje. Mas, apesar da relevância, está longe de resolver todos os problemas de energia do País. A energia produzida pelas duas usinas (Santo Antônio e Jirau) representa apenas um quarto da energia que o País precisa acrescentar ao sistema entre 2012 e 2016. Ou seja, para atender à demanda seria necessário construir um Complexo do Madeira por ano, segundo projeção do Plano Decenal de Energia de crescimento econômico anual de 4,9%.
Na avaliação dos especialistas, os números são um alerta da necessidade de concessão de novos empreendimentos, de médio e grande porte, e mais agilidade para tirar os projetos do papel. As hidrelétricas do Madeira, por exemplo, começaram a ser estudas há cerca de seis anos e apenas agora serão concedidas aos investidores. A primeira, Santo Antônio, de quase R$ 10 bilhões, será leiloada hoje, em Brasília, e é vista como a salvação do País. Já a disputa por Jirau deve ocorrer no ano que vem.
As duas primeiras turbinas de Santo Antônio, de um total de 44 máquinas, devem começar a operar no fim de 2012. As demais unidades entrarão em funcionamento no ritmo de uma por mês. No total, a usina demorará 7 anos e 5 meses para operar na capacidade máxima, segundo o projeto entregue à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Ou seja, estará concluída por volta de 2016.
“Mas eu não acredito que esse cronograma seja cumprido. Se ficar pronta em 2014 já estaria ótimo”, destaca o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires. Apesar do pessimismo, ele afirma que o Complexo do Madeira marca a retomada das megahidrelétricas no País, como Itaipu, Tucuruí e Xingó. Nesses casos, a entrada em operação das usinas atrasou. Itaipu começou a ser construída em 1974 e terminou em 1984; a obra de Tucuruí foi de 1976 a 1984; e Xingó, de 1987 a 1997.
Outro ponto que pode se tornar um empecilho na construção das usinas é o baixo nível de conhecimento sobre o rio, avalia o ex-secretário do Ministério de Minas e Energia, Afonso Henriques, um entusiasta do empreendimento. De acordo com ambientalistas, o Rio Madeira, além de ser o maior afluente do Rio Amazonas, é sua principal fonte de sedimentos. O rio vive em constante formação, o que altera freqüentemente seu perfil.Tirar a obra do papel será um dos maiores desafios do País. “Por isso, sou a favor do aproveitamento de outras fontes, como a energia eólica”, diz Henriques.
Conjunto de obrasOs especialistas defendem que o esforço do governo para tirar o Madeira do papel precisa ser aplicado em outros projetos, como Angra 3, Belo Monte e outros empreendimentos já concedidos à iniciativa privada e que devem entrar em operação nesse período. Isso sem contar as demais hidrelétricas previstas no Plano Decenal de Energia 2007 - 2016, que devem render inúmeras discussões e brigas com ambientalistas.
Uma usina que já provoca manifestações é a Hidrelétrica de Marabá, no Rio Tocantins, cuja capacidade será de 2.600 MW. A usina nem iniciou o processo de licenciamento e já é foco de campanhas por parte dos ambientalistas e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Iguais a essa há outra dezena de usinas, especialmente aquelas que serão construídas na Amazônia.
Ou seja, o empenho do governo será bastante importante no desenvolvimento dos projetos. “É o conjunto dessas usinas que vai dar segurança de abastecimento ao País”, diz o vice-presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Eduardo Spalding.
Ele também defende o equilíbrio da matriz elétrica com fontes térmicas, desde que o custo não seja elevado demais, a exemplo do que tem ocorrido nos últimos leilões. O presidente da Comerc Comercializadora de Energia Elétrica, Marcelo Parodi, acredita que essa é a solução para dar mais segurança ao sistema elétrico. “As grandes obras, como o Madeira, são importantes por causa do preço, mas são de longo prazo. Hoje não temos mais uma Itaipu, que aliviou o sistema elétrico por cinco anos.”
As concorrentesOdebrecht: a construtora tem em sua carteira, sozinha ou em consórcio, as obras de mais de 50 usinas hidrelétricas e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) no Brasil. Somadas, essas usinas têm potência de 49.805 megawatts (MW), equivalente a quase cinco vezes a capacidade de Itaipu
Andrade Gutierrez: já construiu, sozinha ou em sociedade com outras construtoras, 20 usinas hidrelétricas, quatro térmicas e uma usina nuclear (Angra 2). Ao todo, essas usinas têm capacidade instalada de 27.661 MW
Cemig: opera um parque gerador de 6.684 MW, formado por 57 hidrelétricas (que administra sozinha ou em consórcio), quatro térmicas e um parque eólico
Furnas: gera 9.910 MW em 11 hidrelétricas (próprias ou em parceria) e duas termoelétricas
Santander: o banco já atuou no Brasil como consultor financeiro ou financiador em 11 obras de usinas. Atualmente, assessora a estruturação financeira de outros 12 projetos na área de energia, tanto na geração quanto na transmissão
Consórcio Energia Sustentável do Brasil Suez Energy: no Brasil, a Tractebel, tem, com parceiros, um parque gerador de 6.977 MW, formado por seis hidrelétricas e cinco termoelétricas
Eletrosul: voltou a atuar na geração de energia no governo Lula. Está construindo, sozinha ou em consórcio, três hidrelétricas e quatro PCHs, que somam 540 MW
Consórcio de Empresas Investimento de Santo Antônio (Ceisa)
Camargo Corrêa: participou, sozinha ou em consórcios, da construção civil de 23 hidrelétricas, que hoje somam capacidade instalada de cerca de 50 mil MW
Chesf: opera um total de 10.618 MW, produzidos por nove hidrelétricas e uma térmica
CPFL: opera cinco hidrelétricas e 33 PCHs. Participa, atualmente, da construção de outras três usinas. Com as novas obras, a capacidade instalada da empresa deve chegar a 2.174 MW em 2010
Endesa Brasil: a empresa espanhola opera no Brasil uma hidrelétrica de 658 MW em Goiás e uma térmica de 346 MW no Ceará
(Renée Pereira,
O Estado de São Paulo, 10/12/2007)