Um estudo divulgado na Conferência da ONU Sobre Mudanças Climáticas, em Bali, afirma que se o Brasil seguir as recomendações de um relatório endossado pela União Européia, o relatório Stern, e investir pesadamente para cortar emissões de carbono o mais rapidamente possível, correria o risco de perder 4% do Produto Interno Bruto (PIB) --não em apenas 1%, como previu o levantamento do economista britânico Nicholas Stern.
Intitulado "A Ameaça Climática Real para os Países em Desenvolvimento", o estudo, elaborado pela organização não-governamental WG (World Growth), faz uma análise do possível impacto da implementação das recomendações do relatório Stern sobre economias de países em desenvolvimento.
"Esse corte de 4% resultaria numa perda competitiva do Brasil frente aos mercados concorrentes. Exportações industriais, como de aviões, iriam ser afetadas, dificultando a participação brasileira nos mercados europeus", afirmou à BBC Brasil o embaixador britânico Alan Oxley, presidente da World Growth.
Riscos Os autores do documento enxergam nas recomendações do Relatório Stern --publicado em 2006 e que faz uma análise do impacto das mudanças climáticas sobre a economia mundial-- grandes riscos para países como a China, a Índia e os chamados tigres asiáticos. Segundo as previsões da nova pesquisa, a China perderia até 15% do seu PIB e a Índia, 12%, mesmo patamar de perdas das economias asiáticas.
Os autores afirmam que as recomendações do relatório europeu não encontram respaldo nas análises técnicas e avaliações econômicas do último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, na sigla em inglês).
A solução, ao contrário do que recomenda o Relatório Stern, seriam pequenas reduções nas emissões durante um período longo, diz o novo estudo.
Com isso, afirmam os especialistas da World Growth, os países em desenvolvimento seriam capazes de investir em estratégias de alto crescimento econômico para reduzir a pobreza.
Desta forma, acumulando riqueza, eles teriam condições de bancar no futuro o alto custo de adaptação e combate ao aquecimento.
"Nunca houve caso de um país que tenha reduzido o consumo de energia e, ao mesmo tempo, melhorado a qualidade de vida", disse Oxley.
A conclusão do relatório é que para os países em desenvolvimento é mais interessante investir em programas que reduzam a pobreza, melhorem as condições de vida e de saúde das camadas mais pobres do que em cortes de emissão de CO2 para combater o aquecimento global.
De fato, o relatório afirma que as recomendações do Relatório Stern para combater o problema podem "descarrilar os esforços de combate à pobreza". Por isso, a World Growth urge os negociadores a levarem em conta, quando discutirem formas de combate ao aquecimento global, "a importância de erradicar a pobreza e melhorar a qualidade de vida das populações de países em desenvolvimento".
A reunião da ONU em Bali acaba no dia 14 de dezembro e discute formas de combater o aquecimento global.
A expectativa é de que saiam desse encontro as bases para o substituto do Protocolo de Kyoto, o atual acordo internacional sobre emissões de gases do efeito estufa, que vence em 2012.
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Folha Online, 07/12/2007)