Geólogos mediram detalhes do terremoto de ontem em seis sismógrafos locaisEquipe da UnB viaja a Minas hoje para recolher os dados; fratura em placa tectônica e tipo de solo podem ajudar a explicar a força do tremor
Faz sete meses que o Observatório Sismológico da UnB (Universidade de Brasília) já vinha registrando tremores menores na região de Itacarambi (MG), abalada ontem por um terremoto de 4,9 graus na escala Richter. Dois deles foram de magnitude média -um de 3,5 em maio e um de 2,5 no início de novembro.
"De outubro até inicio de novembro detectamos outros 20 tremores pequenos", disse ontem à Folha o geólogo Cristiano Chimpliganond, da UnB. "Isso é normal. Quando acontece um tremor, em geral essa atividade continua com tremores pequenos. Provavelmente eles vão acontecer nesta semana também."
Os terremotos menores foram detectados por seis estações sismológicas que a UnB instalou na região no final de outubro. A equipe de Chimpliganond deve chegar hoje à região para recolher os dados gravados em DVD.
O equipamento registrou tudo o que aconteceu ontem, e as informações novas deverão ajudar a explicar por que um tremor de magnitude relativamente alta ocorreu em uma área onde isso não é comum.
"Os grandes terremotos que acontecem no mundo são nos encontros de duas ou mais placas tectônicas, o que não é o caso do Brasil, que está no interior de uma placa", diz Chimpliganond. "Mas essa placa não é toda uniforme. Ela pode ter algumas rachaduras, falhas antigas, e vários tipos de rocha e estão sobre algumas tensões. Essas tensões migram da borda para o interior das placas, e às vezes elas são fortes o suficiente para movimentar fraturas que já existem."
Esse tipo de fenômeno é difícil de prever com antecedência, diz Champliganond. "[Essas falhas] ficam em profundidade e não dá para ver", afirma.
O abalo de ontem derrubou seis casas no vilarejo de Caraíbas. Segundo o geólogo da UnB, porém, o grau de dano causado pelo terremoto depende de outros fatores, como o tipo de solo em que as casas estavam construídas e a profundidade do epicentro do abalo, que deve ter sido baixa.
"Estimamos que foi por volta de cinco quilômetros abaixo da superfície", diz Chimpliganond. De acordo com o geólogo, porém, o número ainda tem margem de erro alta.
Desespero
Todas as medidas levantadas até agora foram feitas a partir da medida do abalo registrada no solo de Brasília. A análise dos dados das estações instaladas pela UnB em Itacarambi deve demorar mais do que o previsto, porque a prioridade da equipe é ajudar a esclarecer os moradores sobre o problema e passar orientações de segurança. "O cenário está de completo desespero da população local", diz Chimpliganond.
Segundo o geólogo, é mesmo pouco comum a ocorrência de terremotos da ordem de 5 graus na escala Richter. Até hoje, "apenas uma dezena" de abalos acima desta magnitude ocorreram no Brasil. O maior deles foi no Mato Grosso, de 6,2 graus, em 1955.
Após tremor, comunidade deve ser extinta, afirma prefeito A comunidade de Caraíbas, que tem entre 350 e 400 moradores que vivem da agricultura e de uma fábrica de farinha, deve ser extinta. É o que afirma o prefeito de Itacarambi (662 km de Belo Horizonte), José Ferreira de Paula (DEM).
Paula diz que nenhum dos moradores quer voltar para o local. Eles temem um novo tremor como o de ontem. Caraíbas vem sendo atingida por sismos desde maio passado.
"Este é o segundo terremoto mais forte que os moradores enfrentam [o primeiro foi no dia 24 de maio]. O povo não quer ficar mais lá. De manhã, quanto cheguei à comunidade, as pessoas choravam e me pediam, de joelhos, um lugar em Itacarambi para ficar", disse.
A prefeitura pretende doar terreno para as famílias. As novas casas devem ser erguidas com verba do governo mineiro.
De acordo com o prefeito, a comunidade contava com 75 casas de alvenaria, todas com água encanada e energia elétrica. Telefone não há. O mais próximo fica a 12 km dali, no distrito de Vargem Grande.
Ele relata que só ficou sabendo o que aconteceu em Caraíbas por volta das 3h, quando um morador, dono de uma motocicleta, chegou ao centro da cidade em busca de ajuda.
A destruição que atingiu Caraíbas também dificultou a realização do velório da menina Jesiane Oliveira da Silva, a única vítima fatal da tragédia. "Não ficou uma casa em condições de receber o velório. Pedimos uma casa emprestada em Vargem Grande. Foi uma tristeza", disse Paula.
(Rafael Garcia,
Folha de São Paulo, 10/12/2007)