Celso Amorim diz que debate sobre metas brasileiras é questão "semântica"O chanceler Celso Amorim chamou ontem (09/12) de "mitologia semântica" a discussão sobre a aceitação de metas de redução de gases-estufa pelo Brasil.
No início da semana final das negociações sobre o clima em Bali, o ministro insistiu que o país não aceitará metas no sentido definido pelo Protocolo de Kyoto, mas que adotará "medidas quantificáveis e verificáveis" para reduzir suas emissões, em especial as resultantes do desmate na Amazônia.
"Fica essa discussão sobre se o Brasil vai aceitar metas, o que é uma discussão presa a uma mitologia semântica que é muito manipulada", afirmou. "O Brasil é um país que está fazendo e vai fazer uma política de mudança de clima. A questão é como você dá a isso uma visibilidade que o transforma num compromisso internacional."
Depois da primeira reunião com os negociadores do Brasil na COP-13 (a conferência do clima da ONU), o chanceler apontou como desafio a negociação de RED (redução de emissões por desmatamento).
No momento, os países do G77, grupo das nações em desenvolvimento (ao qual o Brasil pertence), estão divididos sobre se incluirão no RED a degradação de florestas e a conservação de estoques florestais. Esta é a proposta da Índia, que quer ser recompensada por tudo o que deixou de desmatar no passado. O Brasil discorda, como também discorda da criação de um mecanismo de mercado para vender créditos de carbono originados de desmatamento evitado ou reduzido.
O raciocínio do Itamaraty é que gerar créditos assim inundaria o mercado mundial com carbono barato, dando aos países desenvolvidos e com metas a cumprir por Kyoto uma forma fácil de escapar do dever de casa de descarbonizar sua economia com redução do uso de combustíveis fósseis.
O Brasil propõe um fundo voluntário onde nações do Anexo 1 (as que têm metas por Kyoto) depositem dinheiro para compensar países que reduzirem suas emissões abaixo de um nível preestabelecido.
Com medo de a divisão interna do G77 acabar não beneficiando ninguém, e as florestas ficarem com uma menção xoxa no "mapa do caminho", o Brasil vai tentar unificar os países em desenvolvimento. "Se você não tiver recursos financeiros novos e livres de um mecanismo de mercado você não está contribuindo para reduzir emissões", disse Amorim.
Questão florestal pede "choque de inteligência", afirma Viana
O secretário do Meio Ambiente do Amazonas, Virgílio Viana, disse ontem que é preciso um "choque de inteligência" na negociação da questão florestal. Foi uma crítica velada à posição brasileira contra a criação de um mecanismo de mercado para vender créditos de carbono originados de desmatamento evitado ou reduzido.
"O problema da negociação é que pouca gente entende de floresta. As pessoas nunca botaram o pé na floresta, ou botaram para tirar uma foto."
Ontem Viana propôs em Bali que o carbono florestal entre, sim, num mecanismo de mercado, mas que esse mercado somente seja usado para compensar emissões de países do Anexo 1 que voluntariamente se comprometerem a ampliar suas metas de Kyoto.
Segundo o secretário, que é engenheiro florestal, a proposta seria uma solução intermediária para acomodar as preocupações do Brasil e as dos defensores do mercado, como a coalizão liderada por Papua-Nova Guiné e Costa Rica.
"A posição brasileira tem avançado muito e o posicionamento formal é longo e complexo. Esperamos que ao final [do processo de Bali] os créditos de carbono de florestas estejam negociados."
(Claudio Angelo,
Folha de São Paulo, 10/12/2007)