A nova greve de fome do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, entrou no radar de preocupações do Palácio do Planalto. Segundo apurou a Folha, auxiliares do presidente procuraram a direção da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e pediram ajuda para convencer Cappio a interromper o jejum (hoje em seu 14º dia).
O bispo de Barra é contra o projeto do governo de transposição de parte das águas do rio São Francisco. Já há sugestão para que o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva faça um contato direto com Cappio logo após a votação da emenda constitucional em tramitação no Senado que prorroga a CPMF até 2011. Para um integrante da cúpula do governo, se Lula não agir rápido, o caso tende a ganhar maior repercussão negativa.
Auxiliares do presidente estavam preocupados com a repercussão da romaria de ontem a Sobradinho (BA), na qual entidades da sociedade civil dariam apoio ao bispo. Um emissário do presidente falará com a atriz Letícia Sabatella, que visitou Cappio e lhe deu suporte.
O governo pretende dizer à atriz que está fazendo obras para revitalização do rio e que a transposição não afetaria de forma significativa o São Francisco. Sabatella, que já se declarou publicamente eleitora de Lula, tem boa relação com o presidente e com auxiliares diretos do petista. O Planalto espera que a atriz ajude o governo a convencer Cappio a acabar com a greve de fome.
Em 2005, na sua primeira greve de fome contra a transposição, Cappio fechou acordo com o governo para interromper o jejum. Na época, Lula enviou o então ministro das Relações Institucionais e hoje governador da Bahia, Jaques Wagner, para conversar com o bispo.
Segundo a versão de Cappio, o governo teria prometido suspender a transposição. Já o governo nunca admitiu ter feito tal proposta. Com o início de obras na região, Cappio voltou a entrar em greve de fome.
(Kennedy Alencar,
Folha de São Paulo, 10/12/2007)