Soa mais como ficção científica do que como uma solução real para o aquecimento global. Fertilizar o mar para criar colônias de plâncton que absorveriam o gás carbônico (CO2) da atmosfera. Mas é isso que duas companhias norte-americanas estão planejando fazer. A idéia é despejar partículas de ferro sobre vastas aéreas dos oceanos, estimulando a reprodução do fitoplâncton (plantas microscópicas que são a base da cadeia alimentar dos oceanos). O ferro é um elemento essencial no crescimento dessa espécie.
Por enquanto, a Planktos, empresa baseada em San Francisco (Estados Unidos) adiou seus planos de despejar cem toneladas de ferro numa área a 550 quilômetros a Oeste das Ilhas Galápagos, no Pacífico, depois de ser advertida, pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA, de que, se quisesse usar a bandeira americana, seu barco necessitaria de permissão das autoridades navais. Outra empresa com planos semelhantes é a Climos, também de San Francisco, mas que ainda não tem prazo para realizar a experiência.
A fertilização do mar com ferro é apenas uma das idéias de “geoengenharia” que estão surgindo à medida que a humanidade vem falhando na tentativa de barrar as emissões de gases do efeito estufa emitidos por carros, fábricas e usinas. Com poucas soluções viáveis para frear o aquecimento global, alguns cientistas acreditam que medidas desse tipo se tornarão cada vez mais freqüentes.
“As mudanças climáticas nos apresentam imensos desafios e precisamos estar preparados para ações drásticas. No caso da fertilização do mar por ferro, a comunidade científica está procurando entender os riscos e os benefícios da tecnologia”, diz John Cullen, do Departamento de Oceanografia da Universidade de Dalhousie (Canadá).
Embora os cientistas admitam que mais estudos sejam necessários para entender o efeito da medida e o impacto ecológico, acreditam que espalhar ferro é uma proposta interessante. Pequenas quantidades de um nutriente poderiam resultar em enormes colônias de fitoplâncton. Quando essas criaturas são comidas por um animal ou morrem, seus detritos caem em direção ao fundo do mar. No caminho, parte é consumida por organismos, mas outra parte atinge as águas mais profundas, onde permanecerá por séculos.
Os cientistas acreditam também que as colônias de plâncton poderão proporcionar alimento para os peixes, aumentando os estoques das espécies. Alguns tipos de plâncton também liberam um tipo de gás que cria partículas de aerossol que refletem a energia solar, reduzindo o aquecimento global.
Porém, existe preocupação, de que um poderoso agente do efeito estufa, o óxido nitroso, possa ser liberado pela decomposição de matéria orgânica, o que anularia os benefícios da absorção do CO2.
Socorro para o mundoO que são fitoplânctonsSão plantas microcóspicas que vivem em suspensão nas águas e absorvem o CO2 da atmosfera.
Por que podem ajudar contra o aquecimento globalPorque o CO2 é um dos gases responsáveis pelo aquecimento global. Algumas espécies também liberam um gás que pode criar partículas de aerossóis que refletem a energia solar, contribuindo para o resfriamento da Terra.
O problemaA neve marinhaÉ o excremento de animais que se alimentam de fitoplâncton, restos de fitoplâncton mortos e outros detritos orgânicos que caem para as profundidades do oceano. Parte dessa neve marinha é comida por bactérias que também consomem oxigênio. Com o aumento desses detritos, causado pelo ferro, alguns cientistas temem que a redução do oxigênio possa causar a mortandade de peixes.
A armadilhaAo atingir 300 metros, o carbono da neve marinha poderá ficar aprisionado nessa profundidade por décadas ou séculos. Parte do carbono chegaria ao fundo do mar, onde ficaria aprisionado por milhares de anos.
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A Notícia, 10/12/2007)