O governo da Venezuela decidiu modificar o fuso horário do país, o que levou os cidadãos a atrasarem seus relógios em 30 minutos, neste domingo.
A mudança --que deixará a Venezuela permanentemente 4h30 atrás do Meridiano de Greenwich e 1h30 atrás da hora de Brasília fora do horário de verão-- não está diretamente relacionada com a economia de energia.
Segundo um dos slogans de propaganda do governo sobre o assunto, a modificação é "para chegar a tempo ao nosso encontro diário com o Sol".
De acordo com o promotor da mudança, o ministro de Ciência e Tecnologia, Héctor Navarro, os maiores beneficiários da mudança de horário serão as crianças, que muitas vezes levantam antes do nascer do Sol para ir à escola, e seus pais, que saem à mesma hora para o trabalho.
"Os seres humanos estão sincronizados com a luz solar. Agora utilizaremos melhor a luz solar", explicou o ministro em uma entrevista à rádio estatal.
A medida foi desaprovada por alguns e pareceu divertida para outros.
A veterinária Luzia Antonio disse à BBC Brasil não estar de acordo com a mudança. "Não seria mais fácil mudar o horário de entrada na escola e no trabalho? E porque meia hora e não a hora completa?", disse.
Para Luzia o governo tem "mania de mudar tudo. Até com a hora querem fazer revolução".
Já o verdureiro Juan Sanchez contou à BBC Brasil que se levanta todos os dias às 4h da manhã para trabalhar, então gostou da idéia.
"Agora quando abrirmos o mercado, às 5h, já faltará pouquinho para amanhecer e teremos mais luz para trabalhar."
Rosa, uma senhora que comprava tomates no mercado público no leste de Caracas, disse que vai esperar para ver se a nova hora trará bons resultados.
"Dizem que vamos ficar menos preguiçosos se acordamos com o Sol. Vamos ver se é verdade mesmo", brinca.
O projeto de modificar o fuso horário foi adiado várias vezes, aparentemente por falta de coordenação do Estado com todos os sistemas regidos obrigatoriamente pelo relógio.
Companhias aéreas, empresas de produção de alimentos, de eletricidade, de telefonia e petrolíferas deveriam ter seu tempo ajustado e coordenado com a mudança do novo fuso horário.
Outra tarefa do governo era a de informar a população, em especial os que têm menos de 50 anos, e que nunca tiveram sua hora modificada.
Para os venezuelanos, pontualidade não existe. No cinema, nos vôos domésticos, no jantar com amigos, na consulta médica, a hora é "relativa" e os atrasos podem chegar a até uma hora, sem que isso seja motivo de incômodo.
Apesar de a medida parecer inédita, não é a primeira vez que os venezuelanos têm a hora partida pela metade.
De 1912 a 1965, o fuso horário do país também era de -4h30 GMT, hora que está medida por um meridiano que passa no centro do território venezuelano.
As estações do ano tampouco exigem tal esforço, já que a diferença entre o amanhecer no inverno e no verão é de apenas 30 minutos.
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Folha, 09/12/2007)