A conferência das Nações Unidas sobre mudança climática fechou no sábado (08/12) sua primeira semana com otimismo, mas sem decisões claras e com uma forte rejeição dos países em desenvolvimento a um compromisso para a redução de suas emissões, como reivindicam algumas nações desenvolvidas.
"Está muito claro que os países em desenvolvimento não estão dispostos a aceitar metas de redução de emissões de cumprimento obrigatório", disse Yvo de Boer, secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC), em entrevista coletiva concedida em Bali.
Apesar disso, Boer avaliou positivamente o andamento da conferência.
O Protocolo de Kioto não obriga países como China e Índia a reduzir suas emissões, que aumentaram muito nos últimos anos e os colocaram entre os maiores poluidores do planeta.
Essas nações não aceitarão nenhum tipo de imposições neste sentido, pois acham que restrições limitarão seu crescimento econômico.
"As partes estão debatendo fórmulas para incentivar esses países a limitar suas emissões", afirmou De Boer, que é a favor de que a conferência de Bali não foque limites específicos sobre as emissões e que pediu que a questão seja discutida mais a fundo dentro de dois anos.
"O importante agora é decidir os instrumentos que os países disporão para atuar em suavização e em adaptação, e esses conhecimentos permitirão que em breve sejam tomadas decisões sobre metas que façam sentido", disse De Boer.
Os cerca de 190 países representados na conferência acham que é essencial desenhar mecanismos de adaptação com base nas advertências do Painel Intergovernamental de Mudança Climática da ONU (IPCC), vencedor do Prêmio Nobel deste ano junto com Al Gore, que deixou clara a necessidade de o mundo se adaptar ao aumento das temperaturas.
Esta semana, também houve progressos em relação aos mecanismos para a transferência de tecnologias "limpas" aos países mais pobres e a fórmulas que deixem os mercados abertos para produtos tecnológicos que respeitem mais o meio ambiente.
A principal desavença neste tema decorre do fato de muitos países em desenvolvimento reivindicarem um fundo para a transferência de tecnologia, enquanto as nações desenvolvidas entendem que esses custos podem ser cobertos com fundos já existentes.
"Os países em desenvolvimento realmente precisam de tecnologias que respeitem o meio ambiente. Há um grupo de trabalho e espero que nesta conferência seja possível estender seu mandato para o próximo ano", afirmou De Boer.
O secretário-executivo espera um apoio majoritário à minuta sobre transferência de tecnologia.
A conferência, no entanto, não avançou muito na criação de mecanismos de financiamento que desenvolvam tanto a adaptação como a suavização da mudança climática, o que poderia determinar o êxito desta reunião.
Segundo o secretário-executivo da UNFCCC, houve um bom entendimento entre as partes quanto à necessidade de limitar a liberação de CO2 procedente do desmatamento, uma questão que ficou fora do Protocolo de Kioto, mas que se mostrou essencial, já que esses gases representam 20% do total das emissões nocivas à atmosfera.
"Os Governos decidiram continuar trabalhando para traçar um regime de redução de emissões devido ao desmatamento em países em desenvolvimento e estão detalhando o programa de trabalho e a metodologia, que deverá incluir avaliações das mudanças na cobertura florestal, como diminuir as emissões e como medi-las", disse.
De Boer está otimista em relação ao avanço realizado na primeira semana da conferência e também lembrou a importância de resultados serem alcançados em Bali.
"A mensagem do IPCC é alta e clara. A mensagem é atuar agora", disse De Boer.
"Quando os ministros de Meio Aambiente vierem na próxima quarta-feira, eu perguntarei: 'O mundo está esperando. Qual é sua resposta política para o que a ciência está nos dizendo?'", acrescentou.
Da conferência de Bali não sairá um texto para dar continuidade ao Protocolo de Kioto após o término da vigência deste, em 2012. No entanto, nela vai ser decidido se a comunidade internacional conseguirá um acordo até essa data e em quais termos.
O secretário-executivo afirmou que o encontro serve como preparação para um novo acordo.
"Estamos tratando de um tema muito complicado, conseguir um acordo em dois anos é muito ambicioso, portanto não poderíamos fazê-lo em duas semanas", disse De Boer.
(
EFE, 08/12/2007)