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agroextrativismo
2007-12-07
Trocar o extrativismo desenfreado por uma atividade rentável e ecologicamente correta. Foi assim que a comunidade litorânea de Flecheiras e Guajiru, no litoral norte do Ceará, descobriu o cultivo sustentável de algas graciláreas através do Projeto SOS Algas. O projeto é desenvolvido há sete anos em parceria com a Associação dos Produtores de Algas de Flecheiras e Guajirú (APAFG), Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Energias Renováveis (IDER) e Instituto Terramar. Recentemente, foi um dos finalistas do World Challenge 2007, prêmio concedido a projetos que se destacam como referência na produção de riquezas para comunidades de maneira sustentável, com destaque no aspecto ambiental.

Segundo Jörgdieter Anhalt, diretor do IDER, o trabalho com algas marinhas, apesar de não ser novo na comunidade, trazia uma série de problemas. "Há décadas as mulheres da região catavam as algas na praia ou no banco natural e as revendiam. O trabalho de desidratação era feito na própria areia da praia e a prática era predatória, pois, ao se retirar algas do banco natural, toda a cadeia alimentar marinha ficava prejudicada".

Em 2006, o IDER instalou com o apoio da comunidade o Centro de Processamento de Algas na praia de Flecheiras. No local, a APAFG faz todo o beneficiamento das algas marinhas de forma mais organizada. Eles contam com um secador solar, um sistema de energia solar fotovoltaica para a iluminação e bombeamento de água doce, uma mesa de limpeza de algas marinhas, espaço para guardar a produção, mesas para pré-secagem e uma estrutura de barraca de praia com cozinha e espaço para mesas.

De acordo com Anhalt, antes da chegada do projeto, as algas eram de baixa qualidade e vendidas a um preço muito baixo. "As algas eram vendidas impregnadas de salinidade, às vezes queimadas pelo sol e com várias espécies juntas. O quilo era vendido por R$ 0,50". O uso da energia solar permitiu a limpeza das algas com água doce sem prejudicar o ambiente. "A limpeza das algas aumentou a qualidade. Além disso, a secagem, que antes podia durar dias, é feita no secador solar em apenas algumas horas", destaca.

Com o cultivo marinho, a comunidade agora trabalha especificamente com a espécie Gracilarea birdae, que tem melhor desempenho econômico e pode ser cultivada sem desrespeitar a biodiversidade local. Hoje, o preço do quilo da alga chega a superar R$ 5. Além disso, a comunidade aproveita o material para fazer artesanato ou produtos como cosméticos e alimentos, o que incrementa ainda mais a economia local. As algas têm em sua composição um gel chamado ágar, indispensável na fabricação de medicamentos, xampus, sabonetes, geléias, balas e outros produtos.

Uma das provas do sucesso do projeto é o Festival de Algas, realizado pelo Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) desde 2004. O objetivo do evento é divulgar a produção sustentável de algas marinhas e a grande diversidade de produtos que podem ser feitos a partir da algicultura. Outro fator de reconhecimento para o SOS Algas foi ter ficado entre os doze finalistas do World Challenge 2007, promovido pela Shell, o canal britânico BBC e a revista Newsweek. O resultado foi divulgado no último dia 4, mas infelizmente não venceu. Apesar disso, Anhalt acredita que ter sido escolhido entre tantas iniciativas já é uma grande vitória. "Eram centenas de projetos do mundo inteiro, e ficamos entre os doze finalistas. De todo modo, o nível de divulgação que conseguimos valeu a pena. Com um documentário veiculado pela BBC, recebemos cartas até das Filipinas. Pessoas de diversos países votaram no projeto acreditando que esta é, de fato, uma ação que transforma em realidade o desenvolvimento sustentável".

Agora, a expectativa do diretor da IDER é que instituições transformem esse reconhecimento em apoio efetivo para aprimorar ainda mais esta iniciativa. A APAFG espera, no futuro, aumentar o Centro de Processamento de Algas para envolver mais famílias e replicar o projeto em outras comunidades para a formação de uma cadeia produtiva. Com isso, a comunidade e as entidades envolvidas esperam fortalecer e trazer reconhecimento para o potencial da produção de algas, sobretudo com a valorização do seu papel sócio-ambiental.

(Adital, 06/12/2007)



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