O Brasil perde anualmente em torno de 100 bilhões de reais em função dos ataques de pragas conhecidas como espécies exóticas invasoras. Nesse cálculo, se contabiliza não só a quantidade enorme de agrotóxicos de que o setor agrícola acaba lançando mal, mas também as perdas na produtividade dos vários cultivos afetados (veja no final da matéria).
De acordo com a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), “espécie exótica” é toda aquela que se encontra fora de sua área de distribuição natural. “Espécie Exótica Invasora”, por sua vez, é definida como sendo a que ameaça ecossistemas, habitats ou outras espécies. As invasoras, por suas vantagens competitivas e favorecidas pela ausência de predadores e pela degradação dos ambiente naturais, dominam os nichos ocupados pelas espécies nativas, notadamente em ambientes frágeis e degradados.
Essas pragas são reconhecidas, atualmente, como uma das maiores ameaças biológicas ao meio ambiente, com enormes prejuízos à economia, à biodiversidade e aos ecossistemas naturais, além dos riscos à saúde humana. São consideradas a segunda maior causa de perda de biodiversidade, após as alterações de habitats.
A Itaipu Binacional luta desde 2001 contra uma dessas pragas – o mexilhão dourado (Limnoperna fortunei), responsável pelo entupimento de encanamentos em equipamentos da hidrelétrica. Passou a empreender um programa que tem reduzido progressivamente a quantidade de larvas da espécie em seu reservatório, sendo obrigada a desligar uma turbina por semana, período em que acumula um prejuízo de cerca de R$ 1 milhão.
“Chega-se a ter 180 mil organismos de mexilhão dourado em um metro cúbico”, diz Lídio Coradin, gerente de Projetos do Departamento de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente. O molusco é originário da Ásia e chegou acidentalmente ao continente sul-americano trazido pela água usada como lastro de navios.
Mesmo com tamanhos prejuízos observados, o Governo Federal não vem dispensando ao assunto a atenção que ele requer. Em dezembro de 2006, foi aprovada no âmbito da Convenção Nacional de Biodiversidade a instalação de uma Câmara Técnica sobre Espécies Exóticas Invasoras. Passado um ano, a proposta não saiu do papel.
Quando enfim tornar-se realidade, a Câmara Técnica deverá ter cerca de 12 membros, dos poderes públicos e da sociedade civil organizada. “Ela deve ser instalada até no máximo fevereiro agora”, espera Lídio.
Feito isso, segundo ele, o passo inicial será avaliar uma primeira versão da Estratégia Nacional elaborada pelo Ministério do Meio Ambiente para o combate às espécies exóticas invasoras, um processo cujos objetivos se pretende definir com prazo até 2011.
Uma das prioridades, no entender de Lídio Coradin, é oficializar uma lista dessas pragas hoje presentes no país. “Ela vai ajudar a proliferar listas e ações em âmbitos estaduais. Precisamos que os Estados também pulsem com esse problema”.
O Paraná saiu na frente e já fez a sua. Espírito Santo está prestes a concluir a dele.
Confira alguns prejuízos já contabilizados, no Brasil e nos EUA, em função dos ataques das espécies exóticas invasoras. As informações são da Assessoria de Comunicação da Associação Brasileira das Empresas de Tratamento Fitossanitário e Quarentenário (Abrafit).
* O uso de produtos químicos para o controle de pragas que atacam a cultura algodoeira no Brasil pode chegar a até 25% do custo da produção. Nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul, são efetuadas, em média, 18 aplicações de pesticidas químicos durante o ciclo da cultura. Na região centro-oeste, onde as lavouras são mais recentes, está prevista para esta safra a necessidade de 11 aplicações só para controlar uma das pragas principais, o Bicudo do Algodoeiro. Hoje, um produtor de algodão gasta em média, anualmente, US$ 216 em 12 aplicações de defensivos por hectare.
* A Mosca Branca é outra importante praga, principalmente por se tratar de um grande transmissor de vírus. Pode ser encontrada nas culturas de algodão, brócolis, cucurbitáceas, ornamentais, soja e uva. Esses insetos, adultos ou ninfas, causam perdas significativas nas culturas, seja pela queda das folhas e frutos, murchamento, além do amadurecimento irregular dos frutos. Causam ainda sérios problemas devido à infecção de vírus, que provoca paralisação do crescimento e queda na produção, quando não levam a planta à morte.
* A Sigatoka Negra, doença da bananeira, é causada pelo fungo Mycosphaerella Fijiensís Var. Difformis. As plantações afetadas pela doença produzem cachos pequenos, com menor número de pencas, bananas curtas e disformes, polpa cremosa e de sabor ligeiramente ácido. Afeta o crescimento normal das bananeiras, tanto na emissão das folhas como dos brotos. Seu controle aumenta o custo de produção e diminui os lucros, pois, em geral, são necessárias de 4 a 6 aplicações de fungicidas por ano.
* A pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Maria Regina Vilarinho de Oliveira, diz que “recentemente, em uma avaliação sobre insetos de importância quarentenária para a agricultura brasileira, observou-se que 315 espécies podem colocar em perigo os nossos agroecossistemas. Deste total, 18% atacam sementes ou grãos, outros 9% podem acompanhar plantas ornamentais e 22%, as madeiras de embalagem”.
* O engenheiro agronômo e presidente da Abrafit, Marco Bertussi, cita como uma ameaça ao país o Besouro Asiático (Anoplophora glabripennis). Só no ano de 2004, os Estados Unidos gastaram U$ 138 milhões no combate e replantio de florestas atacadas pelo Besouro, que entrou nos EUA através de importações da China.
(Por Mônica Pinto, AmbienteBrasil, 07/12/2007)