O ex-ministro de Minas e Energia Antônio Dias Leite, professor emérito do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse nesta quinta-feira (06/12) que a controvérsia entre benefícios com a construção de usinas hidrelétrica e prejuízos ambientais tem sido abordada de forma emocional no Brasil.
“Nós temos que, de fato, confrontar as oportunidades que existem. Confrontar as hidrelétricas com as fontes alternativas”, disse em entrevista à Rádio Nacional.
O ex-ministro observou que o Brasil tem uma grande dependência de energia hidrelétrica vinda da Amazônia, mas que ainda não foi realizado na região um estudo global do que vem sendo feito em termos de energia elétrica como aconteceu nas Regiões Sudeste e Sul.
“Não sabemos exatamente quais os melhores projetos possíveis na Amazônia”, disse.
Dias Leite admitiu a possibilidade de que, ao apresentar um crescimento acelerado da economia nos próximos anos, o país volte a entrar em um colapso energético após 2010.
“Seria dramático entrarmos em outra crise de abastecimento como em 2001. Calcula-se que se perdeu 3% do Produto Interno Bruto só com o racionamento”.
Para o ex-ministro, quando se fala em um setor vital para o crescimento e desenvolvimento do país como o setor elétrico, é preciso planejamento por parte do governo.
“Dez anos é o mínimo. Pouca coisa pode ser feita para acontecer antes disso. Ainda mais agora que o licenciamento ambiental é o novo passo a ser dado em cada projeto”, disse.
Dias Leite disse que é favorável à finalização da usina nuclear de Angra 3, mas pediu cautela na discussão sobre investimentos brasileiros em usinas nucleares.
Segundo ele, os novos projetos de engenharia em âmbito mundial merecem atenção, mas ainda não há comprovação comercial que valide as iniciativas.
“Eu situo as usinas novas como perspectiva para o ano de 2020. Acho que é um pouco fantasia pensar em usinas de estrutura nova antes disso”.
O ex-ministro considerou precipitado o leilão da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio. Porém admite que será possível alcançar boas propostas em termos de custo e preços da energia.
“O processo foi, infelizmente, muito tumultuado. Não é o melhor caminho, mas é o que vai acontecer. Alguns desses consórcios vai oferecer uma proposta aceitável”.
O leilão de energia da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, que será construída no Rio Madeira, em Rondônia, deve ser realizado no próximo dia 10.
Além do consórcio formado pela construtora Odebrecht e pela subsidiária Furnas, também devem participar da licitação as estatais Eletronorte, Eletrosul e a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf).
A usina de Santo Antônio é a primeira das duas hidrelétricas que devem ser construídas no Rio Madeira. O leilão para a segundo usina, a de Jirau, deve acontecer no início do ano que vem.
As duas usinas devem gerar 6,5 mil megawatts de potência.
(Por Paula Laboissière,
Agência Brasil, 06/12/2007)