Uma forma de reduzir o volume de sacolas plásticas no lixo está sendo debatida por empresários e poder público em várias cidades da Serra
Caxias do Sul - A dona de casa Jovita de Oliveira, 61 anos, desfila entre os consumidores do Ponto de Safra. Na feira que ocorre às sextas-feiras no Centro, ela chama a atenção por causa de um acessório: a bolsa de juta (fibra natural) que confeccionou para transportar mercadorias. Jovita é uma das poucas pessoas que levam de casa a própria sacola para abrigar produtos da feira.
- Para fazer compras ou ir ao mercado, carrego minha sacola. Não sou costureira, mas fui eu mesma que a fiz - conta a moradora do bairro Serrano.
Diferentemente dela, a maioria das pessoas prefere a praticidade das sacolinhas plásticas tradicionais. É esse tipo que os feirantes oferecem como embrulho. São as mesmas usadas em lojas, supermercados e lanchonetes.
Jovita está dando o primeiro passo rumo a hábitos de primeiro mundo. No entanto, seu exemplo só não é perfeito em termos de consciência ambiental para a redução de lixo porque ela não rejeita a sacolinha plástica com a qual o feirante lhe entrega os vegetais. Exceto as pequenas frutas, as demais, como bananas e laranjas, poderiam ser acomodadas diretamente na sacola de juta.
- Sem as sacolinhas, fica tudo misturado. Depois eu as uso em casa para colocar o lixo - explica.
Conforme a assessoria de comunicação da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca), a maioria dos resíduos recolhidos na rua com destino ao aterro sanitário (lixo orgânico) ou às associações de recicladores (seletivo) vem acondicionada em sacolinhas plásticas. Além disso, embora a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) tenha um departamento específico de educação ambiental, trabalhando principalmente com estudantes, o município não mantém uma campanha de incentivo para os caxienses levarem suas próprias bolsas para compras, como ocorre em Lajeado.
Campanha para breve - Segundo a chefe do Departamento de Engenharia Química da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Suzana De Conto, as pessoas precisam ser incitadas a adotar novos hábitos. Por isso, ela sugere um movimento com o seguinte enfoque: "Hoje é o dia da sacola. Não esqueça da sua na hora das compras". A intenção, esclarece, é sensibilizar a sociedade sobre a importância de diminuir o lixo plástico e de fortalecer o uso de recipientes com maior vida útil.
- Claro que como consumidora posso ir ao mercado com minha sacola e dizer que não quero as de plástico, apesar de elas já serem pagas por nós, porque o custo vem embutido no valor do produto. Mas, em geral, as pessoas necessitam de estímulo. Na Europa, se você esquecer a sacola de pano em casa, terá de pagar caro por uma do mercado, sem contar o constrangimento - ressalta Suzana.
A engenheira conta que no final da década de 1980 tentou conversar com representantes de supermercadistas para sugerir uma proposta semelhante à da Europa, mas não teve sucesso. Hoje, entretanto, os tempos são outros e é preciso frear a geração de lixo.
De acordo com o titular da Semma, Ari Dallegrave, a secretaria e a Codeca estão avaliando opções de sacolas a serem adotadas. As retornáveis estão entre os estudos. A idéia é conversar com representantes do varejo em janeiro.
- Pensamos numa campanha para a Festa da Uva. Queremos que lojistas e supermercadistas a abracem. Atingir só a dona de casa não adianta - avalia.
O diretor-presidente da Codeca, Adiló Didomenico, nota que o período de esbanjar as sacolas de plástico como propaganda já passou. Para coibir o incremento delas no Aterro São Giácomo, ele aconselha os moradores do Centro a despejarem os resíduos direto nos contêineres. Quanto a uma ação conjunta com o setor comercial, ele diz ser muito necessária.
- Precisamos pensar em algo retornável - indica.
Visão solidária - Na presidência do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios (Sindigêneros), Valcir Scortegagna acredita que a melhor opção seja a sacola retornável. Um levantamento do sindicato mostra que a média de consumo por dia na cidade é de 500 mil sacolas plásticas nos 1,4 mil supermercados, armazéns, fruteiras e pontos do gênero. O dado mostra que cada caxiense leva para casa diariamente 1,25 sacolinha plástica. O Sindigêneros vem estudando alternativas para amenizar essa quantia.
- Alguns lugares que implantaram as sacolas oxibiodegradáveis viram que a idéia não avançou pela pouca resistência. Temos visto que a sacola retornável é a melhor - diz Scortegagna.
Os presidentes do Sindicato do Comércio Varejista de Caxias do Sul (Sindilojas), Ivanir Gasparin, e da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), José Quadros dos Santos, se propõem a dialogar sobre alternativas de sacolas, mas dizem ser necessário um prazo de adaptação. Ambos concordam que são imprescindíveis iniciativas e leis pró-meio ambiente e que o empresariado e a população devem se comprometer com o planeta.
- A sobrevivência da humanidade exige mudanças de postura - frisa Gasparin.
- O apelo ecológico é algo irreversível no mundo atual - completa Santos.
(Por Vania Espeiorin e Juliana Almeida, O Pioneiro, 07/12/2007)