Área devastada é mais de sete vezes a da cidade de São Paulo; ONG vê aumento da derrubada em área protegidaLevantamento ainda não inclui piora do desmate nos meses de agosto e setembro apontada por dados de satélite menos precisos
A taxa de desmatamento na Amazônia caiu 20% entre agosto de 2006 e julho de 2007, mas uma área igual a mais de sete vezes a cidade de São Paulo foi desmatada no período. Segundo estimativa do Prodes (Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia), caíram 11.224 km2 de florestas.
Quase metade da área total desmatada fica dentro dos limites do Pará, Estado que, desde o ano passado, assumiu o lugar do Mato Grosso no topo do ranking do desmatamento. Diferentemente dos demais sete Estados da Amazônia Legal, Pará e Roraima apresentaram aumento da área desmatada em relação ao período entre agosto de 2005 e julho de 2006.
Pará, Mato Grosso e Rondônia respondem, juntos, por 85% do total da área desmatada. Em relação a 2004 -pior ano da década- a queda foi de 59%. Os números deste ano se aproximam da taxa de 1991, a menor desde o início da medição do desmatamento pelo Inpe, em 1988. Mas ainda superam os 11.030 km2 a menos de florestas medidos há 16 anos.
Apesar da redução aparentemente expressiva do volume de floresta abatida, o resultado frustou o governo. Baseada em projeções anteriores, a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) acreditava que o desmatamento tivesse sido reduzido a 9.600 km2 em 2007. O resultado, medido até 1º de agosto, deixa de fora boa parte do aumento do desmatamento captado por um sistema de detecção de derrubada de florestas em tempo real por imagens de satélite desenvolvido pelo Inpe, chamado Deter.
De acordo com esse sistema, o desmatamento cresceu 53%, em agosto, e 107%, em setembro, em comparação aos mesmos meses de 2006, mas esse aumento só aparecerá no balanço de 2008. Só em Rondônia a devastação subiu mais de 600% em setembro. O aumento do desmatamento a partir de julho colocou o governo em alerta em outubro e justificou a mobilização da Força Nacional de Segurança Pública para ajudar a fiscalizar áreas violentas.
Na ocasião Marina Silva negou que a situação tivesse fugido ao controle e atribuiu o resultado ao aquecimento da economia e à proximidade do período eleitoral. O Meio Ambiente não tinha dados para afirmar se o desmatamento em Rondônia estava ou não associado aos preparativos para a construção de usinas hidrelétricas no rio Madeira. Além de manter a tendência de queda do desmatamento desde 2005, o governo contabiliza a apreensão de 1 milhão de metros cúbicos de madeira e a aplicação de R$ 3 bilhões em multas, nem todas pagas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se declarou ontem em Belém "feliz" com os números novos, mas "triste" pelo fato de que o Brasil poderia ter feito mais. Disse que, se for necessário, colocará "um delegado da Polícia Federal em cada município" para combater o desmate. Segundo Lula há fazendeiros sérios e outros que são "predadores" - e que, para estes, "tem que ter o bastão do Estado em cima deles".
Para o ecólogo Adalberto Veríssimo, do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), apesar da queda, o número ainda é alto, e um dado preocupa: aparece agora nível alto de desmatamento em áreas protegidas. "É uma afronta, como se estivessem assaltando a delegacia", diz. Para ele, a perspectiva de 2008 não é boa. "Ano eleitoral sempre coincide com alta no desmatamento, porque a floresta é usada na usina do voto", diz.
(Marta Salomon,
Folha de São Paulo, 07/12/2007)