A combinação de secas, queimadas e mudanças climáticas pode apressar a savanização da Amazônia e a floresta pode chegar a pontos críticos de emissão de gases de efeito estufa em 20 anos. O diagnóstico foi apresentado nesta quinta-feira (06/12) pelo especialista Daniel Nepstad, do Centro Woods Hole de Pesquisa, durante a 13ª Conferência das Partes sobre o Clima (COP-13), em Bali, na Indonésia.
A savanização é a transformação da floresta em savana, um tipo de vegetação composta por gramíneas, árvores esparsas e arbustos, semelhante ao cerrado.
Nepstad, que há 23 anos realiza pesquisas na Região Amazônica, aponta que os atuais cenários de desmatamento aliados ao aumento da pressão pela exploração agrícola da floresta e aos eventos climáticos extremos - como a seca que atingiu a região em 2005 - podem levar à destruição de 60% da vegetação até 2030.
Isso representaria a emissão de 15 bilhões a 25 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa, de acordo com o relatório, intitulado Os Ciclos Viciosos da Amazônia. O estudo foi encomendado pela organização não-governamental (ONG) WWF.
"Uma vez que a exploração de madeira, a seca e o fogo entram na mata, a floresta fica mais vulnerável ainda para pegar fogo de novo, e o pecuarista, o fazendeiro também estarão lá novamente. São ciclos de retroalimentacão, ciclos viciosos levando à degradação da floresta", explicou.
O tema da redução de emissões por desmatamento é um dos principais assuntos em negociação na Conferência das Partes sobre o Clima. "Falta um grande incentivo econômico para a questão, por isso estamos aqui em Bali", afirmou Nepstad.
O Brasil defende a criação de um fundo voluntário para garantir "incentivos positivos" aos países que conseguirem reduções comprovadas de desmatamento. Por enquanto, a proposta tem pouco apoio em Bali e deve perder espaço para sugestões que vinculem a compensação a mecanismos de mercado e ao estabelecimento de metas - possibilidades descartadas pelo governo brasileiro.
"Seriam necessários US$ 8 bilhões [para frear o desmatamento], acho muito difícil conseguir todo esse dinheiro voluntariamente", ressaltou Nepstad.
Na avaliação de Mauro Armelim, da organização não-governamental WWF Brasil, o país deveria aproveitar a COP como uma oportunidade para pressionar as negociações e incluir a redução do desmatamento na agenda mundial de prioridades em relação às mudanças climáticas.
"O tema vem ganhando espaço desde a COP-11, em Montreal, no Canadá. É um reflexo de que o mundo está entendendo o assunto como uma oportunidade de redução [de emissões globais]", avaliou.
"Reduzir emissão de floresta significa reduzir o desmatamento, que tem uma série de conseqüências, no caso do Brasil: roubo da madeira, grilagem de terra, mortes. Ou sejam, resolver o desmatamento significa dar um passo adiante no desenvolvimento do país", acrescentou.
(Por Luana Lourenço, Agência Brasil, 06/12/2007)