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2007-12-07
Nesta estação, o Fall of Warness não é exatamente o lugar mais hospitaleiro que se possa encontrar. Contudo, este estreito situado entre Eday, uma das 67 ilhas das Orcadas (um arquipélago próximo à Escócia), e uma ilhota habitada por focas, foi escolhido para hospedar um estranho monstro marinho: dois pilares plantados bem no meio das águas, pressionados constantemente pelas correntes, e sobre os quais foi construída uma plataforma amarela na qual, tal um olho ciclópico, encontra-se suspensa uma turbina maciça.

O OpenHydro - este é o seu nome e o da companhia irlandesa que o construiu - é um dos protótipos de transformação da energia marinha em eletricidade que foram trazidos para enfrentar as duras condições das Ilhas Orçadas. Apesar da sua posição geográfica excêntrica e de contar apenas 20.000 habitantes, estas ilhas acalentam uma grande ambição: tornar-se um "centro de excelência" mundial para as energias renováveis, segundo Gareth Davies, um consultor que preside um fórum que reúne os interessados locais nesta tecnologia.

As Orcadas descobriram uma riqueza insuspeita: "Nós temos os ventos mais poderosos, as marés mais fortes, as ondas mais altas", comemora Gareth Davis. Alex Salmond, o primeiro-ministro regional escocês, não hesitou em qualificar o estreito que separa o arquipélago da Escócia, o Pentland Firth, de "Arábia Saudita da energia das marés". Neste local, se encontraria um quarto do potencial de toda a Europa neste campo de energia marinha.

Enquanto certos países, como a França, se deixaram distanciar neste setor, a Escócia se interessa pela energia marinha já faz alguns anos. O governo anterior (trabalhista) havia encomendado, em 2003, um relatório que concluiu que 10% da eletricidade escocesa poderiam, a longo prazo, ser produzidos pelas ondas e as correntes marinhas. O estudo mencionava uma potência de 1.300 megawatts, equivalente àquela de alguns reatores nucleares.

Mas nada disso está sendo construído por enquanto: "Nós estamos provavelmente no mesmo estágio em que a energia eólica se encontrava há vinte anos", avalia Neil Kermode, o diretor do Centro Europeu para a Energia Marinha (EMEC). Este centro de testes é único no mundo. Financiado, em sua maior parte, por organismos públicos, ele foi instalado em 2003 em Stromness, na ilha principal das Orçadas.

Este centro coloca dois locais equipados com sistemas de medição à disposição das companhias que desejam testar os seus protótipos: o Fall of Warness para a energia das correntes, e Billia Croo, na orla oeste da ilha, para as ondas. Em cada um destes locais, vários cabos foram imersos. Nos próximos dois anos, outros nove protótipos deverão ser conectados a eles, de modo a serem postos à prova dentro de condições reais. Nem todos sobreviverão a esta experiência.

"Até onde eu sei, existem atualmente no mundo, cerca de cinqüenta projetos de protótipos que utilizam a energia das ondas, e cerca de 25 que visam a extrair energia das correntes marinhas", diz Neil Kermode. Na opinião dos observadores, vai ser preciso esperar ao menos cinco anos para o setor amadurecer e para que um modelo tecnológico e econômico comece a ser esboçado. "Este nosso estágio inicial pode ser comparado, de certa forma, com os primórdios do automóvel", analisa Olivier Dubrule, diretor do centro de pesquisas da companhia petroleira Total, em Aberdeen. "Existem inventores em todo lugar, mas nenhum projeto ainda chegou a se destacar em relação aos outros".

Entretanto, o Pelamis, uma "serpente do mar" composta por tubos articulados que são acionados pela movimentação das ondas, já tomou certa dianteira em relação aos seus concorrentes: Portugal, um outro país bastante adiantado na exploração da energia marinha, encomendou três protótipos deste modelo que deverão em breve entrar em fase de exploração. O Pelamis foi testado em Stromness. É também ali, neste modesto porto, que no passado se especializara na pesca do arenque, que desembarcam pesquisadores, engenheiros e investidores atraídos pelo surgimento de uma energia do futuro.

Com isso, a companhia Total optou por adquirir uma participação na Scotrenewables, uma companhia local que está desenvolvendo um projeto de estrutura hidro-eólica acionada pelas correntes. O grupo francês fornece o seu apoio também para o Centro Internacional de Tecnologia Insular (ICIT), que foi implantado pela universidade escocesa de Heriot-Watt. Os pesquisadores estão estudando a interação entre as ondas e as correntes, e também avaliam o impacto ambiental que terá a extração da energia marinha: diminuição do ritmo e da intensidade das correntes, dificuldades de coabitação com as espécies animais, efeitos sobre os fundos marinhos... Decididamente, não existe nenhuma fonte de energia perfeita.

(Por Gilles van Kote, tradução de Jean-Yves de Neufville, Le Monde, 06/12/2007)



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