Os Estados Unidos amargaram mais uma derrota -desta vez moral- na COP-13, a Conferência das Partes da Convenção do Clima, que acontece em Bali. Depois de seu único aliado, a Austrália, ter lhes dado as costas ao ratificar o Protocolo de Kyoto, seu maior rival, a China, anunciou que vai agir contra o aquecimento.
Ontem os chineses deixaram claro que os países em desenvolvimento "deverão contribuir mais por meio de esforços de desenvolvimento sustentável, políticas públicas e medidas com assistência financeira" dos países desenvolvidos. A posição veio expressa em um documento interno da delegação, ao qual a Folha teve acesso.
A China ainda ironizou os EUA ao propor a criação de um grupo para debater ações semelhantes -de implementação de políticas públicas- por parte de "países do Anexo 1 que são partes da Convenção [do Clima], mas não são partes do Protocolo de Kyoto". Desde segunda-feira só existe um país do Anexo 1 (ou seja, com obrigações a cumprir por Kyoto) nessas condições, e ele é governado por George W. Bush.
Traduzindo do "diplomatiquês", os chineses disseram que, mesmo não tendo obrigações por Kyoto de cortar suas emissões de gases-estufa, eles planejam adotar medidas que levem a essas reduções.
Um exemplo é a meta chinesa, anunciada em junho, de aumentar a eficiência energética e a participação de energias renováveis na sua matriz até 2020. Se os EUA não gostam de Kyoto, eles poderiam se comprometer a também adotar políticas públicas que levem a cortes de emissão em alguns setores da economia.
O posicionamento chinês funciona como um ataque preventivo aos americanos, cujo discurso tem sido dominado pela lógica do não agir enquanto a China não fizer nada.
Pressionada externamente -pela União Européia, pelo Brasil e pela África do Sul- e internamente -pela opinião pública, que sofre com níveis de poluição do ar sem precedentes, causados pelas termelétricas a carvão-, a potência resolveu mostrar boa vontade.
Mas, como não existe almoço grátis no comunismo chinês, o documento da delegação também deixou claro que espera recursos e transferência de tecnologia do Anexo 1. Arremataram dizendo que os dois processos em curso nas conversas em Bali -um que prevê metas maiores para os países industrializados sob o Protocolo de Kyoto e outro que sugere maior participação voluntária dos países em desenvolvimento- são separados. Ou seja, a eventual adoção de metas mais rígidas pelos ricos não implica que o mundo em desenvolvimento precise se comprometer na mesma medida. (CA)
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Folha de São Paulo, 06/12/2007)