O termo florestamento usado pelas empresas de celulose e seus entusiastas não cabe, pois trata-se de uma monocultura agrícola. Em liminar expedida pela justiça está explícito: "sejam condicionadas às publicidades tratando de atividade de silvicultura a proibição do uso das expressões "reflorestamento" ou "florestamento", por induzir em erro à sociedade, levando a crer que se trata de plantação de florestas". Devido à abrangência das áreas previstas para a implantação da silvicultura, foi proposto um Zoneamento Ambiental e Estudos de Impacto Ambiental.
O "novo" governo chegou ao poder e não levou adiante o processo, buscando desqualificar os estudos. As empresas de celulose doaram cerca de R$ 1,3 milhão para 75 candidatos na última eleição. Abraçado a setores da comunicação e como porta-voz das empresas, o governo coloca a questão do plantio do eucalipto como a única opção para o desenvolvimento do Estado. Cria uma dicotomia inexistente, de um lado os ambientalistas e, de outro, a sociedade, ávida por empregos e investimentos. Na realidade setores organizados da sociedade, como as ONGs, têm o dever de esclarecer e trazer a discussão para a população, sem pedir voto a ninguém e independentemente de afiliações ou indicações de grupos que se alteram perpetuamente no poder.
Não estamos para a sociedade tal como os partidos políticos. Estamos diante de uma classe política sem tradição e sem identidade, que não entende o sentido coletivo, com objetivos e meios óbvios. Isto representa a falta de um projeto de Estado. Qualquer coisa que se pareça com desenvolvimento está valendo. As empresas buscam caminhos de garantir suas atividade impactantes, migrando para países e regiões onde a legislação ambiental é frágil, mão-de-obra barata, leis trabalhistas flexíveis, desemprego e vastas áreas de terra barata. Nossos governantes não conseguem projetar para o futuro, pelo simples fato de não conhecerem o passado. Desta forma acreditam e botam créditos em projetos deste tipo. Mediante a falta de criatividade e um bocado de má intenção, resta saber: qualquer migalha nos serve?
*Ecólogo e secretário-executivo do Instituto Biofilia
(Por Felipe Amaral*, JC-RS, 06/12/2007)