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amazônia
2007-12-06
Estudo encomendado por ONG culpa clima por ciclo destruidor de secas e fogo.

Até 55% da Amazônia pode ser destruída até 2030 por uma combinação de agricultura, pecuária, atividade madeireira, fogo e secas, se as atuais tendências forem mantidas na região, de acordo com um estudo divulgado nesta quinta-feira pelo grupo ambiental WWF na Conferência da ONU para Mudanças Climáticas, em Bali.

A pesquisa foi realizada por um grupo cientistas do Woods Hole Research Center, dos Estados Unidos; do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam); e da Universidade Federal de Minas Gerais. Ela indica que as previsões catastróficas esperadas para o fim do século podem estar mais próximas do que se imaginava.

"Os modelos anteriores não levavam em conta o fogo, a exploração madeireira e o regime de chuvas. É um dos cenários mais pessimistas que já vi", disse o cientista americano Daniel Nepstad, que coordenou o estudo e trabalha na Amazônia há mais de 20 anos.

Por trás da destruição acelerada - até a publicação deste estudo, o cenário mais dramático previa uma destruição de metade da Amazônia até 2050 - estaria um ciclo vicioso de fogo e secas alimentado, em grande parte, pelo aquecimento global.

"O nosso objetivo ao divulgar este estudo é fomentar a discussão sobre a relação entre clima e floresta", disse a analista de Mudança Climática do WWF-Brasil, Karen Suassuna.

De acordo com o estudo, o cenário mais grave se desenharia a partir do momento em que as espécies nativas amazônicas, resistentes ao fogo, estiverem tão enfraquecidas que cheguem a ser substituídas por arbustos de fácil combustão, em decorrência dos repetidos danos provocados por secas, exploração madeireira ou fogo.

A destruição de uma porção tão grande da floresta, por sua vez, deve levar a problemas ainda mais graves - e para todo o planeta -, segundo a pesquisa.

"A destruição em grande escala poderia acelerar o abalo global do clima, influenciando o regime de chuvas em regiões remotas do planeta."

O modelo dos cientistas indica que neste ritmo, até 2030, de 15 a 26 toneladas de carbono seriam liberadas na atmosfera, em conseqüência da ação do desmatamento na Amazônia. O equivalente a entre um ano e meio e 2,6 anos das emissões globais nos níveis atuais.

"Sem manter um clima estável, é muito difícil conservar a Amazônia; e sem a Amazônia, é muito difícil manter um clima estável", resumiu Daniel Nepstad.

Diante dessas previsões, a biodiversidade da região também estaria gravemente ameaçada. Áreas importantes para o ecossistema da Amazônia, como a floresta de babaçu do Maranhão e áreas no Maranhão e na Bolívia também poderiam desaparecer, o que acarretaria na perda de várias espécies, inclusive de primatas, nas próximas décadas.

Em meio à mensagem pessimista, o estudo apresentado pelo WWF-Brasil traz também algumas boas notícias. Uma delas, é a capacidade da floresta de se regenerar.

Segundo os autores do estudo, regiões desmatadas conseguem voltar a ocupar as clareiras mais rapidamente do que se pensava, em apenas 15 anos, voltando a consumir dióxido de carbono da atmosfera e atuando na estabilização do clima na região.

Ainda segundo a pesquisa, estudos recentes indicam que vem ocorrendo uma mudança de mentalidade entre os proprietários de terras amazônicas, que cada vez mais usam as suas terras para criar orquídeas ou para atividades madeireiras e, por isso, evitam o uso do fogo como instrumento de manutenção.

Para Nepstad, se o número de fazendeiros conscientes do perigo do fogo aumentar, o risco de queimadas e a conseqüente degradação da cobertura original da floresta diminui.

Esses dois fatores levaram os pesquisadores a concluir que entre as esperanças para evitar a destruição da Amazônia estão o fomento a técnicas madeireiras mais avançadas, no lugar das tradicionais queimadas para a agricultura ou pecuária, e um controle cada vez maior sobre os incêndios florestais.

Além disso, o grupo coordenado por Nepstad sugere que as políticas de uso de terra em vigor atualmente na Amazônia brasileira sejam exportadas para outros países amazônicos, já que parecem ter reduzido a destruição das matas no Brasil.

Finalmente, o estudo conclui que "ainda há tempo para reduzir o risco de uma destruição generalizada da floresta amazônica e da aceleração do aquecimento global que ela causaria."

O grupo de Napsted diz que essa meta, no entanto, poderia ser atingida se o governo brasileiro aproveitasse "cada oportunidade de governar a expansão nas fronteiras da Amazônia".

Para isso, os pesquisadores sugerem a implantação de programas de indenização para países tropicais que reduzam as emissões de gases do efeito estufa provenientes de desmatamento.

O assunto é, precisamente, um dos mais polêmicos da reunião da ONU para mudança climática em Bali.

(Eric Brücher Camara, BBC Brasil, 06/12/2007)

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