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impactos mudança climática
2007-12-06
Bangladesh considera que a conferência das partes da convenção da Organização das Nações Unidas sobre mudança climática, que acontece na ilha de Bali, na Indonésia, é oportuna para recordar ao mundo sua vulnerabilidade ambiental. Este país da Ásia meridional ainda sofre as conseqüências do ciclone Sidr, que arrasou seu território no dia 15 de novembro deixando mais de quatro mil mortos e vários milhões de pessoas sem casa e com fome. Antes de sua partida para a conferência da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que começou segunda-feira e terminará no próximo dia 14, o ministro do Meio Ambiente e Florestas, Chowdhury Sajjadul Karim, disse que ele e os 24 especialistas que o acompanham relatarão o sofrimento de Bangladesh por culpa do fenômeno.

Este país de 150 milhões de habitantes sobre um aumento na freqüência e gravidade dos desastres naturais, que o atingem regularmente, disse Karim. Isso converte Bangaldesh no local ideal para criar um centro internacional de pesquisa sobre mudança climática e suas conseqüências na natureza e para a vida, acrescentou o ministro. O setor acadêmico apóia a iniciativa de Karim. Um centro dessas características “facilitará a avaliação dos danos causados por desastres naturais e a busca de fundos para financiar a adaptação à mudança climática”, disse à IPS o professor Ainun Nishat, representante da União Mundial para a Natureza em Bangladesh.

A delegação desse país pretende descrever aos demais o sofrimento padecido pela população devido aos desastres naturais como ciclones, inundações e secas, acentuados pelo comportamento variável da natureza devido à emissão de gases de efeito estufa em outras partes do mundo. O dióxido de carbono, metano e óxido nitroso são os chamados gases causadores do efeito estufa, aos quais a maioria dos cientistas atribuem o aquecimento do planeta.

Antes da conferência de Bali foi organizada em Dacca uma série de seminários onde se discutiu as conseqüências da mudança climática neste país. O jornal New Age publicou uma edição especial sobre mudança climática no sábado, a título de “acusação detalhada de crimes a serem considerados pelos líderes do mundo”, segundo dizia seu editorial. O justo seria esperar que Estados Unidos e Europa assumam o maior peso da carga pelo agravamento da mudança climática e compensem os afetados, afirmou o jornal.
“Bangladesh deve deixar as coisas bem claras e de forma contundente. Deve ser dito que este país, onde ocorrem desastres naturais atribuídos a mudanças nos padrões climáticos, sobre as conseqüências sem ter contribuído de maneira alguma para ocasioná-las”, ressaltou no domingo em seu editorial o também influente jornal Daily Star. Inundações, secas e ciclones não são fenômenos novos para Bangladesh, mas a gravidade dos desastres naturais se multiplicou por causa do comportamento variável da natureza, explicou o professor Nishat.

Este país exigirá que os fundos de adaptação prometidos pelos países responsáveis sejam adequados e distribuídos de acordo com a vulnerabilidade real das nações beneficiarias, informou Nishat. “Não pode haver justiça se um país muito vulnerável receber uma quantidade de dinheiro igual a outro que não seja muito”, acrescentou. Os Países Menos Avançados, entre os quais figura Bangladesh, correm mais riscos devido à mudança climática e devem cobrar das nações mais ricas que reduzam as suas emissões, em cumprimento ao que diz o Protocolo de Kyoto da Convenção aprovado em 1997”, disse o professor.

Por esse convênio, acordado nessa cidade japonesa, 35 países se comprometeram a reduzir suas emissões em pelo menos 5,2% até 2012, quando expira a primeira fase de implementação, em relação aos níveis de 1990. Está sendo redigido um novo pacto para que as nações industrializadas se comprometam a aceitar reduzir de forma drástica a quantidade de gases causadores do efeito estufa que liberam na atmosfera.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) alertou em seu último Informe de Desenvolvimento Humano que a mudança climática atingirá as nações mais pobres e dizimará seus sistemas agrícolas, deixará pior a disponibilidade de água, elevará os riscos de doenças e causará um maciço deslocamento de pessoas pela recorrência de inundações e tempestades. Mais de 70 milhões de habitantes de Bangladesh, 22 milhões de vietnamitas e seis milhões de egípcios serão afetados por inundações vinculadas ao aquecimento do planeta, segundo o informe “Combatendo a mudança climática: Solidariedade humana em um mundo dividido”.

“As conseqüências no curto prazo não se concentrarão em Manhattan nem em Londres, mas nas áreas propensas a sofrer inundações de Bangladesh e áreas secas da África subsaariana”, disse Kevin Watkins, um dos autores desse documento. Este ano Bangaldesh recebeu dois golpes climáticos: as devastadoras inundações de julho e o pior ciclone desde 1991 até meados de novembro. O Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre mudança climática disse antes da conferência de Bali que o acelerado degelo dos glaciais do Himalaia e a crescente elevação do nível do mar possivelmente agravem as conseqüências das inundações no curto prazo na época de chuvas, bem como as das ondas imensas da temporada de ciclones.

Teme-se que um aumento do nível do mar de apenas 40 centímetros no golfo de Bengala deixaria submersos 11% das terras cultiváveis do país na zona costeira e um fluxo entre sete e 10 milhões de pessoas para o interior dopais, já densamente povoado. Especialistas dizem que a freqüência, amplitude, gravidade e duração das inundações podem subir pelo aumento das chuvas de monções, propiciado pela mudança climática. Isso reduzirá de forma significativa as colheitas e atentará contra a segurança alimentar e a capacidade do país para produzir alimentos suficientes para toda a população.

(Por Farid Ahmed, IPS, 05/12/2007)



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