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utresa
2007-12-05
Principal pivô do desastre ambiental que notabilizou mundialmente o Rio dos Sinos há pouco mais de um ano, a Utresa, uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) que há mais de 20 anos recebe, dispõe e trata de resíduos em Estância Velha, deverá permanecer sob intervenção por mais três anos, conforme determinou o juiz daquela cidade, Nilton Luís Elsenbruch Filomena. Em entrevista, o geólogo Sandro Bertei, interventor ao lado do biólogo Jackson Müller, mostra como a organização está se recuperando após a série de episódios que envolveram a decretação da prisão de seu ex-presidente, Luiz Ruppenthal que, foragido há mais de um ano, apresentou-se à Justiça há cerca de um mês. Depois de passar por um período difícil, a Utresa, afirma Bertei, volta a recuperar clientela e posição como uma das centrais de resíduos de maior procura na região do Vale do Sinos.

AmbienteJÁ – A Utresa continua sob intervenção. Ela vai até quando?
Sandro Bertei – Ela tinha sido implantada por um ano e agora foi prorrogada por mais três anos.

AmbienteJÁ – Isso foi em razão de algum acordo com o Ministério Público?
Bertei – É... bem, isso foi o juiz [Nilton Filomena, de Estância Velha] que determinou.

AmbienteJÁ – E qual a situação da Utresa hoje, o que ela recebe e o que ela não recebe de resíduos ?
Bertei – Ela recebe todos os resíduos que constam na licença de operação dela. É uma gama grande de resíduos.

AmbienteJÁ – Isto inclui pneus, por exemplo?
Bertei – Não, pneus a gente não tem licença para receber. Neste ano, várias empresas procuraram a Utresa para ela receber pneus. Pequenas empresas, borracharias, a própria Prefeitura mesmo... passivos ambientais. Só que a gente não recebeu. O problema do pneu é que é difícil de desagregá-lo, é a forma específica dele, se tu mantiveres a forma dele, vai gerar água dentro, um ambiente adequado para a proliferação de vetores. Tem a parte de metal dentro dele. Todo o aramado da borracha... o pneu tem dezenas, centenas de fios internos que sustentam a borracha. Então, para você fragmentar o pneu, precisa uma tecnologia adequada, precisa máquinas adequadas para fazer esse trabalho, manualmente não dá.

AmbienteJÁ – E com relação à situação de operação da Utresa hoje, houve alguma mudança decorrente da apresentação do Sr. Ruppenthal [ex-administrador da organização] à Justiça, no início do mês de novembro deste ano?
Bertei – Não, absolutamente, a intervenção continua a mesma coisa. A intervenção tem um papel específico de fazer com que a empresa cumpra com a legislação ambiental, independente da presença do Sr. Luiz Ruppenthal ou não.

AmbienteJÁ – Mas ele continua como sócio da empresa?
Bertei – Não, o Sr. Luiz Ruppenthal não apareceu na Utresa ainda. Muito provavelmente ele não faça mais parte. Isto eu não sei te dizer porque é do setor administrativo da empresa. A intervenção não foi administrativa, foi uma intervenção ambiental, exclusivamente. Essas informações estão com o Fernando Couto, que é o diretor-presidente da empresa hoje.

AmbienteJÁ – A Utresa recebe algum resíduo importado?
Bertei – Não, não.

AmbienteJÁ – Quantas empresas destinam resíduos para a Utresa atualmente?
Bertei – Em média, em torno de 600, 650 empresas trazem seus resíduos por mês. É que varia, uma empresa traz neste mês, aí outra traz no outro mês, e assim sucessivamente.

AmbienteJÁ – E basicamente em volume, o que significa isto?
Bertei – Algo em torno de 10 mil, 12 mil metros cúbicos por mês.

AmbienteJÁ – A Utresa tem um tipo de resíduo predominante hoje?
Bertei – É que são várias valas, são várias células, cada uma operando com um tipo de resíduos específico. Então, nós temos resíduos classe I [perigosos] e II [não inertes]. Dos resíduos classe I, o que mais tem é lodo de estação de tratamento de efluentes, areia de fundição, entre outros, mas esses são os dois principais. Aí tem os resíduos calçadistas, coureiro-calçadistas, que também demanda um bom volume, tem os resíduos específicos de couro, que é apara, farelo de wetblue... depois tem outros resíduos, papel, papelão, plástico, PVC.

AmbienteJÁ – Por exemplo, essas areias de fundição contêm metais tóxicos...
Bertei – Sim, é um resíduo classe I, resíduo perigoso, areia de fundição tem o que a gente chama de resina fenólica, é o fenol que classifica aquela areia como perigosa.

AmbienteJÁ – Mas por que um resíduo perigoso, contendo fenóis, como essa areia, pode ser recebido, e pneus não podem? Por que essa diferença?
Bertei – Porque é uma questão de legislação. Para receber o pneu, tu tens que ter módulos específicos e, para isto, o pneu tem muito... além da borracha, no pneu, tu tens arames, tu tens fios, tu tens “n” produtos, e tens a forma do pneu. A forma do pneu é importante neste caso. Porque a simples disposição de pneus pode trazer, entre outras coisas, a presença de vetores de doença e coisa e tal, então o controle tem que ser bem feito, a destruição do pneu é difícil, não é? A picotagem de pneu, para transformar ele em fragmentos, não é fácil.

AmbienteJÁ – Seria um problema de espaço para armazenar, ou um problema de vigilância sanitária?
Bertei – É... tu tens que desmontar o pneu, e para desmontar o pneu a tecnologia é diferente, não é simplesmente desagregar ele. A tecnologia é difícil.

AmbienteJÁ – Se formos fazer um balanço entre o que entrava em quantidade de resíduos na Utresa, antes e depois da intervenção, há mais ou menos o mesmo valor?
Bertei – É, na verdade quando houve a intervenção, em função de todo esse processo que aconteceu na intervenção, a Utresa perdeu uma boa clientela... a quantidade de resíduos que entrou aí diminuiu uns 40, 50%.

AmbienteJÁ – Perdeu para quem?
Bertei – Vai para outras centrais, acredito eu.

AmbienteJÁ – Mas é também resíduo perigoso?
Bertei – Não, tem várias centrais que recebem resíduos perigosos, tem duas, três, tem umas cinco centrais que recebem, claro, todas de menor porte. Então, algumas atenderam essa demanda, mas outros armazenaram seus resíduos até que a Utresa voltasse ao normal e hoje, praticamente, o volume se estabilizou. Houve um reequilíbrio, e a empresa continua hoje operando praticamente com os mesmos volumes anteriores.

AmbienteJÁ – Então, ela voltou a operar com o mesmo patamar de faturamento que tinha antes?
Bertei – Não, não há ainda o mesmo faturamento, não é? Eu diria, sei lá, uns 80% do faturamento... Só que cabe ressaltar que a disposição, hoje, é feita de maneira adequada, dentro de valas novas operando e de maneira adequada e dentro de normas técnicas, o que antes não acontecia.

AmbienteJÁ – E tem espaço para essas valas novas?
Bertei – Há uma vida útil aceitável para a Utresa, ela não está operando em condições finais. Inclusive estamos elaborando um plano de expansão, de reestruturação da empresa.

AmbienteJÁ – Expansão territorial, área?
Bertei – Em área não, utilizando a mesma área que ela tem hoje licenciada, só reestruturando isto de uma maneira mais adequada. Um plano diretor adequado.

AmbienteJÁ – Quem está fazendo?
Bertei – É a Utresa mesmo, sob a fiscalização dos interventores. A gente estabelece diretrizes e faz com que a empresa cumpra.

AmbienteJÁ – Quando será concluído esse plano?
Bertei – Na verdade, está sendo feito o plano, mas a expansão propriamente dita vai começar no ano que vem. E são necessários alguns licenciamentos, alguns estudos prévios que estão sendo feitos agora.

AmbienteJÁ – Depende de um Estudo de Impacto Ambiental, por exemplo?
Bertei – Não, não, porque não há expansão territorial. A área já está licenciada.

AmbienteJÁ – É o mesmo tipo de operação?
Bertei – É, é um plano de reestruturação coma melhoria da infra-estrutura da Utresa, pavilhões, mudança, realocação de empresas internamente, para que a gente possa então viabilizar áreas de disposição de resíduos mais adequadas e melhorar a qualidade de vida e segurança no trabalho aqui dentro, que é precária.

AmbienteJÁ – Vocês operam com quantas pessoas?
Bertei – Aqui dentro tem mais ou menos 180 pessoas.

AmbienteJÁ – O que é precário na segurança do trabalho?
Bertei – É precária a infra-estrutura dos pavilhões, as condições de higiene, a proximidade dos trabalhadores com as valas, então tudo isto tem que ser mudado, então é o que estamos fazendo.

AmbienteJÁ – E existe algum plano de prevenção de riscos?
Bertei – Nós implantamos uma Cipa [Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho], que não existia... em toda a história da Utresa, nos seus 20 e poucos anos, nunca houve uma Cipa. Neste ano, há aproximadamente um mês, fizemos a primeira Sipat, Semana Interna de Prevenção de Acidentes, foi uma semana toda de palestras e preparo e cursos para os trabalhadores aqui dentro, de várias áreas, tanto prevenção de incêndios, riscos à saúde e várias coisas.

AmbienteJÁ – A Utresa é uma Oscip (Organização Social de Interesse Púbico). Quem são as empresas que atuam dentro da Utresa?
Bertei – A Utresa tem um corpo gestor. As empresas são sistemistas que prestam serviços dentro da Utresa.

AmbienteJÁ – E quem são elas?
Bertei – São várias, são 16 empresas sistemistas aqui dentro. Cada uma cumpre um determinado papel, tanto na parte de triagem, segregação, processamento de resíduos, manutenção de valas, paisagismo. E tem toda uma gama de produtos que é feita aqui dentro, sabão, cimento, papel...

AmbienteJÁ – A Utresa tem programa de reciclagem?
Bertei – Sim, a Utresa é uma empresa de disposição, triagem, segregação e reciclagem de resíduos, este é um diferencial que a Utresa tem em relação a outras centrais.

AmbienteJÁ – Por exemplo, quando houve o impacto ambiental da ruptura de uma das valas da Utresa, no ano passado, aconteceu a interdição, e a empresa diminuiu suas atividades e houve uma concorrência na região para receber os resíduos. O Sr. acha que existe de fato uma máfia do lixo, como denunciou o Sr. Ruppenthal em sua primeira entrevista ao reaparecer após um ano como foragido?
Bertei – É, na verdade, o que é o termo máfia? É uma organização que ao invés de praticar a livre concorrência, se junta para praticar os mesmos preços etc.

AmbienteJÁ – Mas isto é cartel.
Bertei – É, em todos os setores isto ocorre, em maior ou menor grau. Eu não diria que no lixo não ocorra isso. É muito provável que exista.

AmbienteJÁ – Porque cada vez se gera mais lixo...
Bertei – É, e os resíduos movimentam milhões de reais no país. Resíduo, hoje, é uma fonte altamente rentável para quem trabalha com isto.

AmbienteJÁ – Mas quando o Sr. Ruppenthal se referiu a máfia, ele se referiu a um atentado contra a vida dele, então tem a ver com a questão criminal contra a vida mesmo, caso de tentativa de homicídio. Isso de fato ocorreu?
Bertei – Eu não sei, eu não tenho a mínima idéia porque ele falou isto. Na verdade, ele se foragiu em função disto. Mas é uma coincidência ele ter se foragido logo depois que ele recebeu a prisão preventiva, quer dizer que se ele não tivesse recebido a prisão preventiva, ele teria se foragido igual? Isso é uma questão que não cabe a mim discutir. É uma questão judicial.

AmbienteJÁ – A ação do Ministério Público com relação à Utresa, como está?
Bertei – Eu não represento a Utresa, eu represento o juiz. Eu sou o representante legal dele [Dr. Nilton Filomena], assim como o Jackson Müller [ex-diretor técnico da Fepam]. Eu fui nomeado pelo juiz para promover a intervenção, para fiscalizar obras aqui dentro, propor melhorias, etc. Então o Ministério Público está aqui dentro, através dos interventores, atuando aqui.

AmbienteJÁ – E com relação ao controle ambiental, análises que vêm sendo feitas dos efluentes. Qual é a periodicidade dessas análises e que resultados apresentam?
Bertei – Houve uma melhoria significativa nos padrões, tanto de análise química das águas dos arroios, por exemplo, a melhoria foi drástica. Ou seja, o Arroio Portão, principalmente, que era um arroio de água preta, hoje, a água dele está clara. E os parâmetros físico-químicos melhoraram significativamente, da mesma forma o Arroio Cascalho.

AmbienteJÁ – Mas é a própria Utresa quem faz a análise?
Bertei – Sim, a Utresa tem os seus pontos de monitoramento, a Prefeitura monitora, a Secretaria do Meio Ambiente do município monitora praticamente diariamente, em vários pontos. E tem análises quinzenais, mensais, trimestrais. A gente faz um monitoramento contínuo aqui, em vários pontos, bem como dos efluentes. Hoje a Utresa tem uma estação de tratamento de efluentes que antes não tinha. Hoje nós estamos tratando os efluentes.

AmbienteJÁ – Isto passou por licenciamento?
Bertei – Sim, tudo é licenciado. Não se faz uma obra aqui sem licença da Fepam. Todos os empreendimentos que foram implantados aqui dentro pós-intervenção são com o aval do órgão ambiental. Não se faz absolutamente nada aqui sem as devidas autorizações ambientais. Isto é ponto pacífico. Senão estaríamos incorrendo no mesmo erro.

(Por Cláudia Viegas, AmbienteJÁ, 05/12/2007)

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