Às vésperas do leilão da Hidrelétrica de Santo Antônio (3.150 MW), marcada para o dia 10, o burburinho tomou conta da capital Porto Velho, uma cidade de 380 mil pessoas. Afinal, depois de tantos anos, ninguém mais acreditava que o complexo pudesse sair do papel. Mas ainda tem muita gente que não põe fé na realização dos empreendimentos, seja por força de manifestações ou mudança nos rumos do governo.
Por lá, o debate sobre a construção das hidrelétricas é caloroso, pior do que discutir política, futebol ou religião. Entre os defensores do projeto, a construção das usinas é a oportunidade de novos tempos. Para eles, se o nascimento do município ocorreu com a ferrovia Madeira-Mamoré, seu crescimento e desenvolvimento virão com as hidrelétricas do Rio Madeira. A opinião está estampada nos carros que circulam pelas ruas da cidade com o adesivo ‘Eu sou a favor das hidrelétricas’.
Do outro lado, estão ambientalistas e moradores preocupados com o impacto que as usinas vão provocar na região, já bastante devastada por queimadas e corte de árvores. Alguns terão de deixar suas casas, pois a área será alagada ou usada como canteiro de obras. No caso de Santo Antônio, que ficará 7 km de distância da cidade de Porto Velho, o lago será de 217 km² e, de Jirau, 258 km².
Mas, com ou sem impacto, a construção das usinas não tem volta. O governo conta com a energia das hidrelétricas (de quase R$ 20 bilhões de investimentos) para salvar o País de um novo racionamento nos próximos anos. Os empresários da região alertam, porém, que não se pode salvar o resto do País e esquecer o Estado. É preciso ter compensações.
Eles defendem um conjunto de medidas para evitar o estrangulamento de Porto Velho com a chegada de migrantes atraídos pelas promessas de crescimento da região. A estrutura atual da capital não comporta o crescimento previsto, de cerca de 100 mil pessoas.
Hoje, apenas 2% da população do município é atendida por redes de coleta de esgoto e 30% têm serviço de abastecimento de água. São os piores índices entre as capitais brasileiras, que garantem baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Para amenizar o problema, o governo federal destinou R$ 650 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Outro problema a ser enfrentado é o tráfego de veículos na cidade, que tem crescido entre 10% e 12% ao ano.
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O Estado de S.Paulo, 02/12/2007)