"Quem está aqui veio ver o profeta, o novo Padre Cícero que o Senhor enviou para todos nós e para o semi-árido". Com essa frase o bispo de Goiás Dom Thomáz Balduíno iniciou sua fala em frente a Capela de São Francisco em Sobradinho (556km de Salvador) durante Ato Público realizado ontem (04/12) contra transposição e em apoio à decisão de Dom Luiz Cappio de mais uma vez jejuar em prol de novos rumos do Rio São Francisco. Caravanas de municípios vizinhos como Juazeiro, Casa Nova, Remanso, Sento Sé, Campo Alegre de Lourdes, Curaçá, Rodelas, Paulo Afonso, Irecê e outras regiões como Ceará, Pernambuco, Alagoas e Mato Grosso chegaram com centenas de pessoas.
Para Rubem Siqueira da Comissão Pastoral da Terra (CPT) as caravanas são testemunhas e adesão a uma causa "que é da humanidade que está ameaçada de extinção caso esse projeto maluco de desenvolvimento continue". A caminhada saiu da Capela em direção às ruas da cidade levando uma multidão que pelos cálculos da Polícia Militar chegavam a quase cinco mil pessoas. Aqueles que não estavam em caminhada, esperavam ao longo do caminho fazendo um grande cordão de proteção. Num carro que ia à frente do povo, o bispo Dom Luiz Cappio seguiu acompanhado de perto pela família e integrantes da CPT que protegiam o veículo.
No caminho várias mulheres faziam questão de se aproximar e pagar na mão do bispo e dar algumas palavras de conforto e apoio. "Deus vai proteger o senhor e a todos nós, pode acreditar", disse a Dom Cappio a aposentada Joaquina Rodrigues da Silva de 78 anos que se aproximou do bispo apoiada pela filha. Na caminhada a população entoavam de cânticos religiosos a músicas de Luiz Gonzaga. Faixas, carro de som, crianças, jovens e adultos andaram com velas acesas nas mãos sem reclamar os cinco quilômetros percorridos no fim da tarde até a margem do rio, na parte que fica abaixo da barragem de Sobradinho.
Num altar improvisado num palco em meio a várias barracas no local que é área de lazer da comunidade, o bispo Dom Luiz Cappio celebrou missa e começou pedindo um instante de silêncio total o que foi obedecido. "Nosso Velho Chico é nosso pai e nossa mãe", disse o bispo mostrando a importância da existência do São Francisco na via diária das pessoas. Atentos, os fiéis ouviam suas palavra elevando o sentimento de preocupação com o estado do rio. "Não podemos olhar para ele como um objeto que está para ser jogado fora e sim vendo nele a benção de Deis pra nossa vida", afirmava o bispo pedindo ao povo respeito, carinho e atenção pelo rio.
Importância essa que o pescador Avelar Gomes dos Santos de 53 anos dá há mais de 40 anos. "Acho muito importante revitalizar o rio que está cada dia mais morrendo e acabando com a atividade da pesca que sustentou tantas famílias como a minha", ressaltou. O apoio dado ao bispo reuniu pescadores, trabalhadores rurais sem terra, agricultores, organizações não governamentais, políticos, associações e grande parte dos moradores de Sobradinho, todos numa consciência que segundo Dom Luiz Cappio é um "ideal comum lutando por cada vida de cada pessoa cuidando para que as futuras gerações possam usufruir dessa riqueza que Deus nos Deu".
(Cristina Laura,
A Tarde, 04/12/2007)