Especialistas fizeram um apelo na terça-feira (04/12) para que o mundo desacelere o desenvolvimento de biocombustíveis e aumente os investimentos em agricultura para evitar graves problemas de alimentação que ameaçam os mais pobres.
"O sistema mundial alimentar tem problemas. As questões em jogo são ainda mais graves porque ameaçam os mais pobres", declarou o diretor-geral do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares (IFPRI), Joachim von Braun, ao apresentar em Pequim um relatório elaborado por sua organização. "Os preços dos alimentos aumentaram nos últimos meses como nunca em 30 anos, atingindo em cheio os mais desfavorecidos", destacou.
Segundo o relatório do IFPRI, a disparada do consumo mundial, as mudanças climáticas, os preços elevados da energia, a globalização e a urbanização "podem transformar o modo de produção dos alimentos, seus mercados e seu consumo". O desenvolvimento dos biocombustíveis é um fator importante da alta desenfreada dos preços dos cereais, e afeta os países importadores natos como a China e quase todos os países da África.
Segundo as projeções do instituto com base nos planos atuais de desenvolvimento de bioenergia, o preço do milho poderia aumentar 26% até 2020, e o das oleaginosas, 18%. No entanto, segundo projeções duas vezes mais ambiciosos, os preços do milho subiriam 72% e os das oleaginosas, 44%. "Em 1973-1974, o mundo sofreu aumento forte de preços como estes por causa sobretudo de problemas de gestão agrícola na Rússia e na Europa do Leste, explicou Joaquim von Braun à imprensa.
"O mercado recuperou seu equilíbrio em dois anos, mas isso prejudicou a nutrição das populações pobres, principalmente das crianças, durante vários anos", afirmou. Segundo o instituto, sem medidas eficazes, a crise deve perdurar: "o mundo está comendo mais do que está produzindo. Estamos reduzindo nossos estoques. Em breve, haverá um esgotamento".
As mudanças climáticas acentuarão ainda mais o problema, reduzindo "significativamente" a produção, sobretudo nos países em desenvolvimento como a África, onde "a agricultura é feita sem irrigação", segundo o relatório. O IFPRI considera indispensável manter as fronteiras abertas: "Num mundo com escassez cada vez maior de alimentos, as trocas devem se intensificar e não diminuir".
"Devemos compartilhar a escassez", lançou Braun. O relatório foi publicado por ocasião da Assembléia Anual do grupo de consultas para a pesquisa agrícola internacional (GCRAI), uma aliança de 64 governos, fundações privadas e organizações internacionais e regionais, que apóiam 15 centros, entre eles o IFPRI, e quer promover o desenvolvimento científico em agricultura para reduzir a pobreza.
(Yahoo Brasil,
Ambiente Brasil, 05/12/2007)