Apesar de produzir cerca de 17% da eletricidade mundial e não gerar emissões de carbono, a energia atômica não é uma "vacina" para prevenir o aquecimento global, afirma o Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008, do PNUD. Segundo o documento, o ideal é ter um “meio-termo” entre posições contrárias e favoráveis às usinas nucleares e pesar o custo-benefício do ponto de vista econômico, climático e de segurança das atuais instalações.
Eliminar as usinas nucleares existentes sem substitui-las por outras fontes de energia com baixa emissão de CO2 pode ser uma opção ruim. De acordo com o texto, esta “é uma receita para aumentar as emissões de dióxido de carbono”.
A questão para os governos, segundo o RDH, é saber se a energia atômica é mais barata e eficiente a longo prazo do que formas alternativas de energia, como a solar e a eólica. Os custos para construir uma usina nuclear são altos e giram entre US$ 2 bilhões e US$ 3,5 bilhões por reator, sem contar gastos com eliminação de lixo atômico e desativações. “Sem ações de governo para garantir mercados energéticos, redução de riscos e a eliminação de resíduos, a iniciativa privada teria pouco interesse em investir na energia nuclear”, afirma o relatório.
Projeções de médio prazo acompanhadas pelo PNUD indicam que o consumo de energia atômica tende à estagnação ou queda no mundo, em comparação com o fornecimento total de energia elétrica. Países como a Alemanha e a Suécia estão avaliando desativar suas usinas atômicas. “Nos Estados Unidos não são construídas novas centrais nucleares há mais de três décadas”, diz o RDH. Em 2006, enquanto um reator foi ativado no Japão, seis foram desativados nos países ricos. Na França, entretanto, reatores atômicos geram 80% da energia consumida no país e há planos de expansão para o uso doméstico.
Cerca de quatro quintos da capacidade nuclear do mundo estão instalados em 346 reatores nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que incluem as nações da União Européia.
Além das questões econômicas, a finalidade bélica da tecnologia nuclear também é motivo de preocupação para o PNUD. “A nível internacional, existe o perigo das tecnologias nucleares poderem ser usadas na criação e produção de armamento, independentemente de se destinar a fins militares ou não. Sem um acordo internacional para reforçar o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, a rápida expansão da energia nuclear colocaria grandes riscos a todos os países”, reforça o texto.
O relatório aponta que, para garantir que a energia nuclear seja usada para fins civis, os mecanismos de monitoramento devem incluir inspeções e verificações continuadas, além de uma maior transparência e regras internacionais claramente definidas. O documento aponta ainda que os países ricos poderiam fazer muito mais para vencer os desafios globais "ao reduzir os seus próprios arsenais nucleares e promover uma diplomacia ativa para avançar com a não proliferação".
(Por Rafael Sampaio, Pnud,
Envolverde, 04/12/2007)