Estudo divulgado pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) aponta a tendência do avanço das lavouras de cana-de-açúcar, para produção de etanol, no segundo bioma mais ameaçado do país. Nas últimas décadas, o Cerrado já perdeu a metade de sua cobertura vegetal, principalmente por conta do desmatamento resultado da prática de agricultura e pecuária, inclusive, sobre áreas prioritárias para a conservação e uso sustentável do Cerrado, corredor de biodiversidade que deveria estar sob proteção. A estimativa é de que o desmate nessas áreas, que agora estão sendo tomadas pela cultura da cana, gire em torno de 1,1% ao ano, o equivalente à destruição de cerca de 22 mil km² por ano.
A conclusão do levantamento do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), financiado com recursos da Comunidade Européia, é de que pode haver comprometimento dos recursos naturais, das populações rurais - que sobrevivem do uso da biodiversidade do Cerrado - e da segurança alimentar na região. O Cerrado abrange cerca de dois milhões de quilômetros quadrados e faz conexão com a Amazônia, a Mata Atlântica, o Pantanal e a Caatinga. Sua área central está nos estados de Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, sul do Maranhão, oeste da Bahia e parte do Estado de São Paulo. Abrange ainda uma pequena porção no Paraná e enclaves localizados em Roraima, no Amapá e extremo norte do Pará.
Usinas projetadas para o Cerrado indicam expansão da canaO estudo realizado pelo ISPN também apresenta a tendência regional de expansão da monocultura da cana e revela que, enquanto a indústria canavieira já definiu a ampliação de área plantada e a construção de novas usinas – inclusive em regiões onde ainda não há lavouras de cana –, o governo não apresenta um plano para evitar o desmatamento descontrolado no cerrado.
A produção canavieira se concentra onde deveriam ser preservadas importantes amostras do bioma, por isso, o levantamento questiona a capacidade do governo para enfrentar, monitorar e controlar o desmatamento no Cerrado, já que, ao contrário da Amazônia, não há um sistema de vigilância permanente e muito menos uma política pública que alie o crescimento econômico com a preservação de áreas importantes para a manutenção dos serviços ambientais.
Impactos sociaisOs impactos sociais do avanço descontrolado da indústria da cana no Cerrado também devem trazer conseqüências na produção de alimentos na região, que pode diminuir, além de agravar a migração para as periferias urbanas, se os pequenos produtores de alimentos deixarem suas plantações atraídos pelos empregos temporários no corte da cana.
A proposta seria a de preservar as áreas de interesse ambiental global e incluir as populações que vivem no Cerrado no processo de desenvolvimento sustentável da região, sem excluir uma alternativa econômica importante para o país como o etanol. “O governo precisa se antecipar e direcionar a expansão da cana-de-açúcar para áreas já alteradas se quiser evitar perdas inestimáveis para a biodiversidade do Cerrado e impacto indesejáveis sobre os recursos hídricos e o clima”, alerta o professor Donald Sawyer, do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília.
MapasCom base nos novos mapas - elaborados a partir de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA) -, contabiliza-se para o Estado de São Paulo 27 novas usinas. Goiás, que já tem 17 usinas instaladas, deverá saltar para um total de 40 com as novas unidades previstas. Minas Gerais tem 31 usinas instaladas e deverá ganhar mais 14. Em Mato Grosso do Sul, há 10 usinas instaladas e 15 em construção.
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ISA, 03/12/2007)