Um medicamento à base de própolis para regenerar pele, evitar contaminação e estimular a cicatrização em queimaduras está pronto para ser produzido em escala industrial. Trata-se de um líquido gelado que se transforma em gel quando em contato com a pele. O produto já foi testado na Unidade de Queimados do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC/FMRP).
A farmacêutica Andresa Berretta é a autora do trabalho, concluído no início do mês passado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP). Além de mostrar que tem ações semelhantes àquelas encontradas nos produtos sintéticos, de auxílio na regeneração da pele, evitar a contaminação e estimular a cicatrização, a descoberta traz vantagens adicionais.
“Além de ser um produto natural, o sistema de geleificação libera o princípio ativo da própolis de forma prolongada, aumentando o seu tempo de ação, o que reduz o número de aplicações. Esse sistema é chamado de termo-reversível, ou seja, é aplicado frio e na forma líquida, em contato com a pele, em temperatura mais alta, se geleifica. Outra vantagem para o bem-estar do paciente é que o gel é mais fácil de ser retirado do que uma pomada, por exemplo,” afirma a orientadora do trabalho, professora Juliana Marchetti, da FCFRP.
As pesquisadoras comemoram os resultados e dizem que o próximo passo é disponibilizar a formulação para uso também doméstico, para pequenas queimaduras. “Essa foi uma conquista, pois já sabíamos que em Cuba utiliza-se a própolis para queimaduras, mas de forma quase que artesanal uma vez que sua transformação em medicamento requer maior rigor, padronização e condições técnico-operacionais compatíveis com a indústria farmacêutica”, analisa Andresa.
Segundo a pesquisadora, as concentrações das substâncias presentes na própolis mudam de região para região, por isso foi necessário fazer primeiro a padronização dessa composição para garantir que todo o lote utilizado na pesquisa tivesse a mesma concentração dos princípios ativos. “Nessa padronização fizemos um extrato selecionado e estabelecemos limites para determinados princípios ativos conferindo capacidade de reprodução lote-a-lote”, explica. “Concluímos que não havia nenhum tipo de efeito colateral nem alteração na pele. Daí patenteamos o extrato”, revela.
Testes
Os testes pré-clínicos foram realizados em ratos do sexo masculino da espécie Rattus norvegicus, da linhagem Wistar. Os testes clínicos, na Unidade de Queimados do HC, foram feitos em 31 pacientes em área chamada doadora, ou seja, local de onde é retirada a pele para o enxerto na área queimada. A pesquisadora optou por testar nessa área, onde a pele também tem que se regenerar, porque apresenta dimensão e profundidade padronizadas em toda sua extensão, facilitando a análise.
“Numa parte dessa área que passou pela cirurgia de remoção de pele, usamos o extrato de própolis e em outra, a pomada nitrofurazona (FuracinR), tratamento referência utilizado na Unidade do HC. O extrato de própolis apresentou resultado semelhante ao produto sintético. Na prática tivemos resultados individuais até mais eficientes, mas estatisticamente não se diferenciaram”, conclui Andresa.
Fonte: Rosemeire Soares Talamone, do Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do Campus de Ribeirão Preto
Mais informações: (0XX16) 3602-4300, e-mail jmarchet@usp.br, com a professora Juliana Marchetti, ou com a pesquisadora Andresa Berreta pelo telefone (0XX16) 3514-4444, e-mail: labandresa@apisflora.com.br.
(Agência USP, 04/12/2007)