O zoneamento ecológico da cana-de-açúcar, preparado pelo governo federal, deve ficar pronto em julho de 2008. O trabalho, uma parceria dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, da Conab e Embrapa, vai identificar as áreas onde o plantio da cultura não afeta o meio ambiente, como matas ciliares e a região do cerrado. Parte do zoneamento já foi feita pelo Ministério do Meio Ambiente, Conab e alguns Estados, mas vários dados precisam ser consultados com municípios.
"Queremos mostrar para o mundo que vamos fazer o desenvolvimento da cana-de-açúcar sob critérios sustentáveis. Não é porque os outros países estão pedindo, é um interesse brasileiro", disse o secretário de Agroenergia do Ministério da Agricultura, Manoel Bertone, que participou ontem de uma reunião com os secretários estaduais de Agricultura do país.
Sobre o plantio da cana na Amazônia, Bertone disse que não é necessário proibi-lo sob o simples argumento de que a atividade não é viável economicamente na região. "A lucratividade da cana na Amazônia é baixa. A cana exige período seco e período frio e lá não é o lugar mais adequado. A Amazônia não é problema, ninguém vai plantar cana lá. Tecnicamente, em grande parte da Amazônia, não se plantaria cana", afirmou Bertone, para quem a questão da proibição do plantio na Amazônia está na esfera estritamente política.
"O trabalho que vamos fazer é técnico, em parceria com os Estados, para mostrar onde podemos e devemos plantar e onde não é recomendável plantar. Do ponto de vista político, quem resolve é o governo e o Congresso", afirmou.
Ele disse não ser um bom negócio levar uma usina para a área porque não existe mercado consumidor e a produtividade da cana é 15% inferior à das demais regiões brasileiras, pois o nível de sacarose é mais baixo devido ao clima. Para Bertone, o crescimento da cultura da cana pode se dar por meio do uso de terras de pastagens degradadas. A estimativa é de que o país tenha hoje cerca de 90 milhões de hectares de pastagens degradadas, enquanto a cana plantada ocupa 7 milhões de hectares. Somente no Centro-Oeste, há mais de 20 milhões de hectares degradados. "O governo pode induzir o crescimento do plantio nessas áreas".
O secretário disse que o zoneamento servirá para orientar políticas públicas, como o financiamento para aumentar a produção em determinadas áreas. "É interesse do setor de açúcar e álcool crescer com sustentabilidade. Caso contrário, ele não vai acessar mercados", completou.
(Por Ana Paula Grabois,
Valor Econômico, 30/11/2007)