O governador Paulo Hartung será julgado e condenado pela História, por ser generoso com as transnacionais poluidoras. Também serão condenados os seus auxiliares, segundo avalia o ambientalista Bruno Fernandes da Silva. Ele apontou que no horizonte de pouco mais de uma década “haverá escuridão no céu dos capixabas”, como hoje “há escuridão nas instituições”.
O ambientalista é presidente do Grupo de Apoio ao Meio Ambiente (Gama), com sede em Anchieta. Os ambientalistas e empresários da região vêm denunciando que as indústrias a serem instaladas em Ubu, na divisa de Anchieta com Guarapari, destruirão o turismo, que é a vocação do sul capixaba e que tem boa infra-estrutura.
Para os capixabas, as transnacionais, como a ArcelorMittal Tubarão e a Vale, reservam novos projetos poluidores. A empresa do indiano Lakshmi Mittal diz que programa novos investimentos para o Espírito Santo, como informou na inauguração da 3ª usina, nessa quarta-feira (29), em Tubarão. Com a 3ª usina, a produção da empresa passa de 5 milhões para 7,5 milhões de toneladas anuais (pode chegar a 8,3 milhões).
Um dos novos projetos é a ampliação da produção das suas duas usinas antigas, que passarão de 2,8 milhões para 4 milhões de toneladas anuais. O governo Paulo Hartung aprovou a licença ambiental deste projeto a toque de caixa. Os outros dois projetos são a ampliação do Terminal de Barcaças e do porto de Praia Mole.
A empresa ameaça o Espírito Santo com a instalação de um Laminador de Tiras a Frio (LTF). No passado, a empresa optou por instalar uma planta deste tipo no sul do País para estar mais próxima do mercado, e escolheu Santa Catarina. A demanda do mercado é crescente e a ArcelorMittal deve anunciar a implantação do seu LTF em Tubarão a médio prazo. O governo do Estado anuncia que os projetos deste tipo são bem recebidos.
Não é descartada ainda a instalação de uma nova siderúrgica da ArcelorMittal, mas em Ubu. Também em Ubu, a Baosteel e a Vale construirão uma siderúrgica de grande porte - para produzir 5 milhões de toneladas anuais - podendo dobrar a médio prazo.
Nesta quarta-feira (29), o presidente da Vale, Roger Agnelli, começou o processo de sedução dos governos que recebem os projetos poluidores ao anunciar que a empresa construirá mais uma siderúrgica. Mira o Espírito Santo e a até o Maranhão, de onde o governo local escorraçou a empresa para proteger a região de São Luis da poluição ambiental.
É este conjunto que o ambientalista Bruno Fernandes da Silva fez sua análise. Segundo afirmou, o Espírito Santo “tem virado terra das empresas poluidoras. E terra dos empregos de salários baixos”.
Para ele, no horizonte de médio prazo a política do governador Paulo Hartung prejudicará ainda mais a qualidade do ar em vasta área do Estado, tendo a Grande Vitória e Ubu como epicentros.
Como os parâmetros que medem a poluição do ar são generosos para as empresas poluidoras, o presidente do Gama acredita que os índices poderão até estar dentro da legislação. Mas adverte: “A poluição será inaceitável para a população. Pois hoje já causa muitas doenças”.
Lembra ainda o ambientalista que, além da poluição do ar, os poluentes contaminarão o mar e o solo. Destruirão a biodiversidade nos diversos ambientes, inclusive no marinho.
“O governador Paulo Hartung e seu secretariado não têm sensibilidade nenhuma para a área ambiental. Só enxergam as coisas segundo o viés econômico. O governo tem de ser independe em relação a empresas como a ArcelorMittal e a Vale. Mas o governo Paulo Hartung é atrelado aos interesses dessas empresas”, afirmou Bruno Fernandes da Silva.
Assegura que no julgamento da História o governo Paulo Hartung será condenado por estar a serviço das empresas poluidoras e não da população. E se reportando a aprovação dos projetos poluidores a qualquer custo, como vem ocorrendo, assegurou que hoje “há escuridão nas instituições”.
Sobre a Grande Vitória as usinas lançam poluentes que afetam a saúde dos moradores. Ao todo, são 59 os tipos de gases lançados, sendo 28 altamente nocivos, que provocam alguns tipos de câncer, outras que destroem o sistema imunológico, além de doenças alérgicas e respiratórias.
A CVRD respondia por 20-25% dos poluentes do ar, a ArcelorMittal Tubarão por 15 a 20% e a Belgo por 5-8% das 264 toneladas/dia de poluentes, 96.360 toneladas/ano de poluentes. O volume de poluentes vem aumentando, com os novos projetos implementados.
O passivo da ArcelorMittal Tubarão e da Belgo juntas - a Belgo também é empresa do indiano Lakshmi Mittal - já atinge R$ 1.650.000.000,00 em 24 anos de operação (da ex-CST), valor que os moradores da Grande Vitória gastaram para tratamento das doenças provocadas pela poluição emitida por estas empresas.
A maior das poluidoras da Grande Vitória é a Vale. Sua primeira usina foi inaugurada em 1969, com a remontagem de uma velha usina comprada nos Estados Unidos da América (EUA), com capacidade para produzir 2 milhões de toneladas anuais. As doenças causadas pelos poluentes da Vale tem custo anual médio de R$ 65.000.000,00, o que totaliza R$ 2.470.000.000,00, nos seus 38 anos de produção.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 03/12/2007)