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impactos mudança climática ipcc
2007-12-03
Um mundo com 30% menos espécies; falta de água causada pelo desaparecimento de geleiras afetando centenas de milhões de pessoas; florestas tropicais morrendo com o desaparecimento dos lençóis freáticos; um aumento crescente das temperaturas mundiais. Tudo isso e mais pode ser o destino do mundo em algumas poucas décadas.

Ao menos essa é a história sinistra contada pelo relatório divulgado nesta primavera pelo Conselho Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC). Neste mês, entretanto, o IPCC disse que tinha errado. Nosso futuro, de fato, é muito mais nefasto. As previsões originais eram baseadas nas atuais emissões de gases de efeito estufa. Acontece que tais emissões ainda estão subindo 3% ao ano.

"Os cientistas estão nos dizendo que temos uma janela de tempo muito curta para agir. Temos de 10 a 15 anos para fazer as emissões globais reverterem de sua atual tendência para cima para uma tendência extrema para baixo", disse Yvo de Boer, secretário executivo da Convenção de Mudança Climática da ONU (UNFCC).

Essa pequena janela de tempo começa na segunda-feira, na ilha de Bali. Mais de 10.000 diplomatas e cientistas de todo o mundo vão se reunir para iniciar a tarefa de criar um acordo que talvez afaste o mundo da beira da mudança climática. O desafio, entretanto, é imenso. O primeiro acordo de emissões intermediado pela UNFCC, conhecido como Protocolo de Kyoto, fez pouco para deter as temperaturas crescentes e o aumento concorrente nas catástrofes naturais aparentemente relacionadas ao clima. Com Kyoto expirando em 2012, uma sensação de urgência cerca a rodada de negociações que se inicia na segunda-feira. E a Europa espera liderar a tarefa.

Muito mais rígido do que Kyoto
"Nosso objetivo em Bali é convencer o resto do mundo que precisamos de reduções de emissões que garantam que não aumentaremos a temperatura média da Terra em mais de 2 graus Celsius", disse Barbara Helfferich, porta-voz da Comissão Européia para meio ambiente.

Poucos esperam que a conferência de uma semana vá muito além de identificar as amplas diretrizes do tratado e concordar em redigi-lo até 2009. Mas é o começo de um processo de negociação mais longo -e que muitos esperam que será muito mais duro do que Kyoto. Neste, 35 das maiores economias do mundo comprometeram-se a cortar as emissões para 5% abaixo dos níveis de 1990 até 2012. Mas os EUA não retificaram o tratado, e países em desenvolvimento como China e Índia receberam permissão de continuar cuspindo tanto dióxido de carbono quanto desejassem na atmosfera, alguns dos maiores poluidores do mundo não foram afetados. Menos de 800 milhões de pessoas, de uma população mundial de 6,6 bilhões, moram em países comprometidos a reduzir emissões pelo protocolo.

Os EUA, a maior e mais suja economia do mundo, continuam no alto na lista européia de prioridades em Bali. Os negociadores europeus esperam que as descobertas dramáticas do relatório do IPCC -e a mudança presidencial em 2009 - levem a uma reformulação da política americana. "A posição dos EUA e quanto tentará obstruir o processo- isso dependerá de que tipo de acordo haverá entre a EU e os grandes países em desenvolvimento", disse Hermann Ott, diretor do escritório de Berlim do Instituto Wuppertal de Clima, Ambiente e Energia.

Definindo capacidade em Bali
Requerer que os países em rápido desenvolvimento controlem as emissões é o segundo ponto do tratado que a UE defenderá. Quase 180 nações assinaram o Protocolo de Kyoto, mas apenas as mais ricas são obrigadas a fazerem cortes de emissões. O novo tratado, dizem líderes da EU, deve exigir reduções de emissões de outros importantes poluidores, como as economias em expansão do Brasil, China e Índia. "A contribuição dos países em desenvolvimento também deve ser obrigatória, em uma forma comum, mas diferenciada, ou seja, de acordo com a capacidade. Isso precisa ser definido em Bali", disse Helfferich.

As emissões, entretanto, não serão o único foco da conferência de Bali e de subseqüentes negociações. A mudança climática já está acontecendo. As calotas de gelo estão derretendo, geleiras estão diminuindo e os níveis dos oceanos subindo -e alguns países já sentem seus efeitos. Negociadores europeus e pesquisadores de clima ressaltam a necessidade do sucessor de Kyoto incluir uma série de iniciativas preventivas e adaptativas -ajudar as nações de baixa altitude a construir comportas, por exemplo, ou dar assistência agrícola para agricultores pobres adaptarem-se a novos padrões de clima -para diminuir o impacto das mudanças climáticas que emissões anteriores já geraram.

"Temos que criar mecanismos que permitam que países em desenvolvimento limitem as emissões sem ameaçar o crescimento econômico e a erradicação da pobreza", disse Boer. A UNFCC de Boer é organizadora da conferência de Bali e direcionará as discussões para redigir um novo tratado.

Ainda assim, além de ajudar países pobres a lidarem com a mudança climática, a UNFCC também quer que assumam sua parte do fardo. Apesar de a indústria na maior parte dos países em desenvolvimento ainda não emitir muito dióxido de carbono em relação aos maiores poluidores do mundo, o desmatamento tornou-se um grande problema. Não só as florestas saudáveis servem como "ralos de carbono", absorvendo o dióxido de carbono e liberando oxigênio, mas o desmatamento em países tropicais hoje são responsáveis por 20% do carbono lançado na atmosfera da Terra por ano. Um estudo divulgado em agosto concluiu que os atuais programas para cortar emissões, inclusive o Protocolo de Kyoto, dão pouco incentivo para os governos das nações tropicais manterem suas florestas intactas.

"Alguma coisa em seu lugar"
"Em um nível muito local, você só vai estimular o sujeito que segura o machado a largá-lo se puder colocar no lugar uma alternativa econômica que seja igual a cortar a árvore ou construir alguma coisa em seu lugar", disse Boer.

Um desses incentivos seria destinar fundos para nações com florestas tropicais por meio de um mercado internacional de comércio de carbono. Em tal sistema, nações mais ricas e mais poluentes poderiam custear a preservação de florestas ricas em carbono para compensar suas emissões de gases de efeito estufa. A União Européia está testando um esquema de troca de emissões similar e, de acordo com a UNFCC, foram negociados US$ 30 bilhões (cerca de R$ 60 bilhões) nesse mercado em 2006.

Além disso, porém, comentadores europeus ressaltaram que a ajuda mais importante será o apoio financeiro direto de nações ricas para projetos bem distantes de suas fronteiras. Líderes europeus dizem que estão dispostos a ter maior compromisso financeiro na redução de emissões global, apesar de ninguém ter de fato anunciado uma quantia. Mesmo que o dinheiro apareça, não poderão agir sozinhos.

"Se a Europa for muito ambiciosa na mudança climática, mas seus competidores não forem, então um regime de mudança climática fará as fábricas e empregos deixarem a EU sem qualquer benefício global de redução de emissões", salientou Boer. "Uma parte importante do desafio é criar um regime que permita ao produtor europeu ser muito ambicioso em seus métodos de economia de energia sabendo que alguém está fazendo o mesmo produto sem levar as emissões em consideração".

"Destruição mutuamente garantida"
Até agora, os esforços europeus para deter a mudança climática não prejudicaram sua economia. Helfferich observou que os Estados membros da EU comprometeram-se nesta primavera a reduzir unilateralmente as emissões de gases de efeito estufa para 20% abaixo dos níveis de 1990 até 2020, com maiores reduções programadas caso um acordo internacional seja firmado.

Evidências em favor desse acordo estão surgindo rapidamente. Aqueles que negam que haja mudança climática estão se tornando cada vez mais raros, enquanto os relatórios sobre o estado cada vez mais vulnerável de nosso clima estão aumentando. Isso, dizem os negociadores europeus indo para Bali nesta semana, talvez seja sua arma mais forte. E esperam que seja suficiente.

"Temos uma situação como a Guerra Fria, com destruição mutuamente garantida", disse Ott. "A diferença é que, na Guerra Fria, o desafio era evitar algo. Agora o desafio é maior, porque de fato temos que fazer alguma coisa."

(Por Patrick McGroarty, Der Spiegel, tradução Deborah Weinberg, UOL, 01/12/2007)



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