Esgoto a céu aberto é realidade nos municípios da região. Em Porto Alegre, o arroio Dilúvio recebe ligações clandestinas  
 
A confirmação dos péssimos indicadores do saneamento básico da região Metropolitana de Porto Alegre, apontados na pesquisa Trata Brasil: Saneamento e Saúde, divulgada na última semana pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), não é difícil de ser feita. Uma breve passagem por algumas áreas periféricas da Capital dá uma idéia da situação de parte dos moradores. É o que ocorre, por exemplo, na vila Dique, uma das mais populosas.

No local, onde há moradores que dividem cômodos de suas casas com animais de maior porte, como cavalos, o acesso à rede de esgoto não é prioridade. No valão, que passa na parte de trás da vila e no qual desembocam os dejetos resultantes das casas, crianças brincam e se banham em dias de calor. Em outros municípios da região Metropolitana, a situação se repete. Além do esgoto a céu aberto, valões como o da República, em Canoas, às vezes também servem de cenário para acidentes.

Não é preciso, contudo, deslocar-se até as vilas para presenciar o banho de esgoto. Quem circula pelo Centro da Capital ou em áreas de maior densidade demográfica também pode confirmar as condições precárias de saneamento. Basta passar pelo Gasômetro ou percorrer a avenida Ipiranga, famosa por abrigar, no leito que divide suas pistas, o arroio Dilúvio. Com a função de escoar as águas das chuvas, o Dilúvio, na verdade, leva para o Guaíba muito mais do que isso. Além das ligações clandestinas de esgotos, são jogados nele diariamente dejetos de toda espécie.

Apesar dos problemas visíveis, a Capital pode ser considerada destaque em saneamento básico na comparação com a realidade do RS. Em Porto Alegre, a coleta abrange 85% dos domicílios, e 27% do esgoto sanitário estão tratados, segundo o Dmae. Mesmo nas cidades onde há uma rede coletora que cubra áreas consideráveis, faltam estações de tratamento. O resultado é que o esgoto sanitário acaba sendo desaguado em córregos, arroios, rios e no mar, contaminando os mananciais e os lençóis freáticos.

'A situação do RS em termos de saúde pública só não é pior devido à existência das fossas sépticas, que não deixam o esgoto exposto e, por conseqüência, diminuem os riscos à população. A contaminação, porém, continua', alerta a pesquisadora Naia de Oliveira, da Fundação de Economia e Estatística (FEE). Naia toma por base os dados de 2004 da pesquisa Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do IBGE. Eles indicam que, do esgoto domiciliar coletado diariamente no RS, somente 0,031 metro cúbico é tratado. O volume coletado ao dia também não chega a ser expressivo: apenas 0,142 metro cúbico.

(Por Flávia Bemfica, Correio do Povo, 02/12/2007)